O artigo abaixo foi publicado no jornal A Tribuna, Vitória, ES, em 22/10/2011, assinado por Tarcísio Faustini, engenheiro, professor, radialista e o mais conceituado pesquisador de música popular brasileira no estado, sendo produtor e apresentador do programa “Domingo Brasil”, levado ao ar todos os domingos pela emissora Universitária-FM , entre 10 da manhã e meio-dia, já há 18 anos, ininterruptos.
Tarcísio Faustini
“Como se faz e quanto dura uma canção popular? Não há receita nem prazo de validade, mesmo nos tempos atuais em que alguns consideram finada essa forma de expressão. Algumas canções são efêmeras, mas outras teimam em se propagar no tempo e espaço, sendo recriadas em diferentes formas.
Há 50 anos, Geraldo Cunha estava na praia de Santos com os amigos Pery Ribeiro e Marisa Gata Mansa quando teve a ideia de uma canção. “Pery, isso aí dá música” – disse Geraldo. E Pery: “O que dá música?”. Geraldo: “Essa onda, onda que vai, onda que vem”. Pery emendou: “Sol de um verão que é meu também”. Pery desenvolveu a letra, Geraldo a música, e assim nasceu a canção “Bossa na Praia”. Então foi assim? - perguntaria Ruy Godinho, colecionador e autor de livros de histórias como essa. Pois é, foi assim, parece fácil.
Deve ser fácil para quem sabe. Esses sabem tudo: Geraldo Cunha - violonista, cantor e compositor. Pery Ribeiro – cantor e compositor. A cantora Marisa foi testemunha da criação. Todos têm uma grande história musical.
Quanto tempo poderia ter durado essa canção? Alguns dias, talvez, ali mesmo na praia, ou meses, nos muitos espetáculos e shows de bossa nova dos anos 1960.
Pery Ribeiro gravou, seguido por Sylvia Telles. Depois, Geraldo perdeu a conta, há mais de cem gravações, dentro e fora do Brasil.
Astrud Gilberto lançou nos Estados Unidos um elepê cuja faixa-título é Beach Samba, uma versão solfejada de Bossa na Praia.
Há duas versões dessa canção no idioma inglês: This time I’m gonna make it last, feita por Kate Lyra para Pery Ribeiro gravar, e Foot prints in the sand, gravada por Maricenne Costa.
Se você procurar no Youtube por bossa na praia, encontrará novas interpretações e até uma cantora japonesa cantando ou tentando cantar essa canção em Português!
E Geraldo Cunha, por onde anda? Mora em Guarapari, num apartamento cheio de bossa na Praia dos Namorados, há 14 anos! Enquanto sua canção viajou o mundo, ele seguiu carreira em São Paulo, gravou discos, fez shows e participou de festivais, mas se rendeu aos encantos da cidade-saúde, de onde sai poucas vezes para visitar amigos em Vitória ou fazer algumas apresentações, que foram rareando. Agora, ele se dedica a compor e registrar suas composições para um futuro disco. Modesto, não se queixa da injustiça de não ter sido lembrado nas comemorações dos 50 anos da bossa nova, embora tenha participado ativamente do movimento. Tem essas e muitas histórias para contar, até dos anos em que acompanhou ao violão a cantora Maysa em shows pelo Brasil.
Segundo Geraldo, está também no Youtube o melhor registro da sua bossa na praia, feito pelo guitarrista Victor Humberto e pela cantora Eliane Gonzaga, há poucos meses, na Praia do Canto.
Assim, a canção Bossa na Praia faz 50 anos e permanece viva em muitas praias. Você conhece alguma canção recente que poderá durar esse tempo?”