Para o músico Victor Humberto Biasutti.
História da Bossa Nova
em Vitória (conclusão).
Há
alguns meses publicamos, em partes, narrativas sobre o movimento musical de
Vitória entre o final dos anos 1950 até meados dos anos 1960- intitulamos como
a História da Bossa Nova em Vitória. Isso deve-se ao fato que a Bossa Nova
causou grande impacto e influência no dia a dia da então pacata ilha de
Vitória. Além da proximidade física com o Rio de Janeiro, onde nasceu o
movimento, havia uma estreita relação pessoal entre os músicos das duas
capitais, amadores ou não.
Aqui
reproduzo o último texto publicado para dar liga à conclusão, ao final da
história.
Vitória continua a mesma. Evidente que a ilha não se estendeu. O
município sim, no sentido vertical e os carros se amontoam loucamente. Há algum
tempo atrás Camburi era de Serra, bem como a área onde hoje está o campus da
Universidade Federal. Sou do miolo da ilha. Nasci na Praça Costa
Pereira, cercado por teatros e cinemas, clubes, hotéis, bondes, sorveterias,
caldos de cana com pastel, palmeiras e um barulhinho gostoso do cais, quando o
mar arrebentava na maré cheia contra as pedras, atrás do teatro Glória. Hoje
meu temor é outro,além daquele de encontrar alma nas ruas desertas, aliás,
característica que permanece na atual Vitória, noites com ruas desertas. São os
vivos que hoje me assustam. Mas continua a mesma Vitória. A ilha do Frade já
foi do Lemote, do Percy, do Zé Moraes, mas voltou a ser ilha do Frade. Em
Vitória é assim, muda hoje e volta depois ao que era antes. Hoje é Vitória do
congo, da panela de barro, da muqueca e como sempre foi, a Vitória do poderoso
vento nordeste que a acaricia diariamente, assim como a acariciou a Bossa Nova
naquele tempo; é até chamada deVentória Nenhum famoso se fixou por
aqui, nenhuma música foi composta em sua homenagem por aquela turma. Restou
muito carinho.
Mas a Bossa Nova deixou seu rastro e não é difícil encontrar nos bares
da noite, ou em gravações recentes, a forte influência de estilo que até hoje
percorre o mundo. Vozes como a de Ester Mazzi, Elaine Gonzaga, Andréa Ramos,
Márcia Chagas, Ava Araujo, Tammy, entre tantas, ou instrumentistas como Victor
Biassutti, Pedro Alcântara, Afonso Abreu, Marco Grijó, Roger Bezerra, Paulo
Sodré, os irmãos Rocha e os irmãos Paulo, entre muitos e muitos, confirmam que
a Bossa Nova está viva entre os capixabas.
Lembro agora do episódio que contou Cariê no qual teve um encontro
inesperado com Silvinha Telles, anônima em Vitória, acompanhada de Candinho,
seu ex-marido, na boate do clube Vitória . Surpreso, juntou-se ao casal e os
levou depois para saborear uma galinha ao molho pardo no antigo restaurante Mar
e Terra, o único a ficar aberto nas madrugadas de Vitória. Claro, que não
poderia faltar um violão naquela mesa. Depois de várias canções, e que belas
canções não devem ter cantado, um freguês, notadamente embevecido com a voz de
Silvinha Telles, resolveu afinal levantar-se e a ela dirigir a palavra: Como
a senhora canta bem. Que voz. Se a senhora permitir, tenho um amigo na rádio
Espírito Santo a quem posso apresentá-la. Tenho certeza que ele vai
contratá-la!
Carinho
pela cidade tinha Maysa. Comenta Lira Neto na biografia da cantora:
Vitória nunca mais esqueceria aquela
passagem de Maysa pela cidade. Embora tenha dito que estava ali à procura de
paz. Nem as pedras e os morros que compõem a paisagem do lugar e fazem dele uma
espécie de Rio de Janeiro em miniatura – dariam crédito àquele propósito. Em
uma cidade pequena, cada gueto era hiperdimensionado e ganhava ares de
escândalo.
Verdade foi o furacão Maysa causador
desse agito da Bossa Nova em Vitória.
Acho que nem Cariê, nem Evanilo, nem Moacir tinham idéia que aquela
música nova tão delicada e rebuscda que eles buscavam antes no Rio traria à
Vitória uma velha amiga da cidade pra tanto reboliço. Maciel de Aguiar comentou na página de O
Século Diário que Maysa fazia questão de dizer que era capixaba e que demonstrava orgulho
da família paterna, não pela aristocrática descendência laureada pela monarquia
brasileira do Segundo Reinado, mas pelo fato de muito se identificar com seu
pai, amante da música, boêmio e notívago como ela.
- Em Vitória eu já era “uma Monjardim” e não
deixei de ser eu mesma.
As histórias de Maysa são bem narradas
pelos biógrafos Lira Neto e José Roberto Santos Neves. Mas o narrador chefe é
Ruy Castro, dela e de outras histórias.
Maysa faleceu num acidente
automobilístico, na ponte Rio Niterói em 22 de janeiro de 1977.
Contei
historinhas. Quem quiser que conte outra. Aquela atmosfera dissipou-se. Há
pouco reencontrei um antigo amigo, residente em São Paulo, que viveu aquelas
auroras, magras e gordas.
Ficou
igual, mas é diferente. Melhorou, mas piorou e, se piorou, melhorou um
pouquinho. Temos que buscar os rastros daquele tempo. As ruas, ainda são quietas.
Os homens e mulheres estão mais quietos que outrora. Havia mais música para o
público. A música rasteja em pequenas casas e bares, sem regularidade.
Pequenas
histórias de uma cidade que já foi chamada de Presépio, Pérola do Atlântico,
Cidade Sereia, Cidade Atlântida, Guananira. Ilha do Mel, Cidade Risonha, Cidade
Sol e que poderia também ter sido chamada da Capital do amor, do sorriso e da
flor e, por que não, Capital Secreta da Bossa Nova?
Rogério
Coimbra, agosto de 2012.
R. Coimbra,
ResponderExcluirPROTESTO!!!
Não pode ser a CONCLUSÃO da HISTÓRIA DA BOSSA NOVA EM VITÓRIA!
Tenho acompanhado desde o "primeiro capítulo" e conhecido fatos importantes, folclóricos e outros mais sobre o estilo em nossa terra.
A novela tem que continuar!
Senão, os "fantasmas da ilha" voltarão a assombrar.
Já estamos ficando sem local para ouvir e tocar Bossa, ficarmos agora também sem os registros no teclado do micro?
Conclamo todos os leitores, amantes da bossa, apreciadores de música e de Vitória... a se rebelarem e a exigirem seus direitos: queremos mais capítulos! Muitos mais...
Você não pode abandonar Vitória da Bossa ou a Bossa de Vitória!
Abraço (meio zangado), Victor
Caríssimo Victor,
ResponderExcluirHá uma resposta especial para você através de uma postagem, exclusiva.
Vamos em frente.
Sucesso em suas empreitadas.
Um grande abraço.