Rogério Coimbra.
Circula um trio de ilustres fantasmas na ilha de Vitória, cidade considerada mal assombrada, principalmente aos domingos. Mas ninguém precisa ficar apavorado. Há gente que se deslumbra e outros nem sabem o que acontece. Na verdade esses ilustres fantasmas são três extraordinários músicos capixabas que conquistam o mundo, compasso a compasso. Eles são simples humanos de carne e osso e seus nomes são Fabiano Araújo, Marc elo Coelho e Bruno Mangueira.
Bruno Mangueira é um estilista sonoro que figura na lista dos 10 Mais. Simplesmente eu o ouvi de uma calçada num sábado à tarde no Wunderbar, Praia do Canto, Vitória, ao lado do outro competente guitarrista, Vitor Biasutti (a melhor base da ilha e bem real). Sua família, Mangueira, desponta das imediações do Parque Moscoso. Eu o ouvi pela primeira vez no extinto Zanzibar da praia de Camburi num show de Toninho Horta, que o chamou ao palco para uma canja cheia de temperos e elogios. Desde lá fiquei extasiado com aquela textura sonora. Bacharel e mestre em música pela Unicamp hoje ele reside em São Paulo e já tocou com os melhores, como o próprio Toninho Horta, Nelson Ayres, Nailor Proveta, Gilson Peranzzetta; vamos parar por aqui. Lançou seu primeiro CD em 2009 com a participação e notáveis.
Fabiano Araújo é da Ladeira São Bento, no centro de Vitória e já foi estudante de engenharia, craque em matemática. Como não poderia deixar de ser, Salsa, feitor de anjinhos com lira, ou seja, o mestre em estimular jovens talentos, teve o Fabiano o acompanhando naquele extinto restaurante Mão na Massa, na Praia do Canto, depois também conhecido como Mão na Moça. Foi quando o jovem resolveu trocar a matemática pela música, o que dá no mesmo, só que Fabiano trocou seu cérebro pelo coração. É fascinante o clip que pode ser acessado na web, uma gravação do concerto realizado em agosto no Teatro Carlos Gomes, executando músicas de Hermeto. Fabiano quando estudante assistia a um show de Chick Corea em São Paulo quando o pianista desafiou a platéia se alguém tocaria a quatro mãos com ele. Não deu outra, Fabiano lançou-se ao palco e não fez feio, ao contrário.
Marcelo Coelho, o Bamban, destacou-se nos anos 90 tocando na Orquestra de Jazz da Escola Técnica sob a batuta de maestro Célio, aliás, outro ilustre fantasma formador de talentos. Depois de ser aprendiz de David Liebman, discípulo de John Coltrane, Marcelo hoje ministra workshops pelo mundo afora, na Europa, Oriente, ensinando o povo a tocar. É um dos sopros mais vigorosos do Brasil e alhures, obedecendo ao sagrado ensinamento do mestre Coltrane, a love supreme.
Nosso bom músico Salsa observa que essa molecada toda passou pela Escola de Música de Campinas, de onde também veio se materializar entre nós o incrível Pedro Alcântara. O baterista Marco Antônio Grijó, fantasmão sênior, afirma que o trio de músicos acima citado é o que há de mais valoroso na história da música instrumental capixaba neste século XXI.
Bom mesmo é pesquisar e deliciar-se com clips e áudios disponibilizados na internet. Googlem Fabiano Araujo, Marcelo Coelho e Bruno Mangueira. Boa caça aos fantasmas de ouro.
Em tempo: Não seriam eles definitivamente reais e, sim, nós, os fantasmas?
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