segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

ESTER MAZZI.





Ester Mazzi faz hoje 66 anos, bem vividos, na dela, e com todos nós. Chamada de Musa do Jazz, na verdade ela é a Musa da Bossa. Com 5 discos gravados, sendo 2 LPs e 3 CDs, quem sabe ela não vem aí de novo? Parabéns, Ester Mazzi.


domingo, 27 de fevereiro de 2011

DEXTER GORDON


                        DEXTER GORDON.(27/02/1933 – 27/02/2011).

Dexter Gordon, nasceu em Los Angeles:o homem do sax tenor vigoroso, sem ser pesado, lírico, sem ser prosaico, firmou-se nos anos 40 como instrumentista de grandes bandas, como as de Gillespie, Fletcher Henderson e Billy Eckstein. As drogas apagaram os anos 50 de sua vida, com longos períodos na cadeia; só no despertar dos anos 60 passou a afirmar seu estilo com excelentes gravações no selo Blue Note. Em 1962 foi para a Europa só retornando aos EUA em 1976. Assim como ele, foram muito os músicos que se abrigaram no velho mundo para sobreviver e sobretudo progredirem.

Seu grande momento foi quando protagonizou um músico de jazz no filme "Round About Midnight", de Bertrand Tarvenier, em 1986. O personagem, Dale Turner, era uma mistura de Bud Powell e Lester Young, juntando ficção com fatos reais. O modo de se expressar no filme sintetizava o amadurecimento de Gordon, e era semelhante ao seu jeito de tocar. Foi um grande personagem do hardbop que faleceu em 1990, no auge dessa bem-sucedida última fase de sua carreira.




Estamos também em www.bloguidonoleari.blogspot.com, e,www. cadernosete. com.br

sábado, 26 de fevereiro de 2011

GEORGE SHEARING.


                           George Shearing (13.08.1919 – 14.02.2011).


George Shearing nasceu cego, em Londres, e aos três anos aproximou-se do piano e com ele ficou até 2004. Nos anos 40 e 50 liderou um quinteto que talvez tenha sido o conjunto mais popular do jazz; a fórmula de tal sucesso foi a junção do seu piano a uma guitarra, a um vibrafone, um baixo e bateria. A textura sonora de seu quinteto era única, com um encaminhamento harmônico que se fazia identificar com facilidade. Era uma música alegre e bem conduzida e teve muitos seguidores. No Brasil, o quinteto de Roberto Menescal nos anos 60, em célebres gravações no selo Elenco, demonstrava sem pudor como se poderia tocar a la Shearing, que também foi mencionado nos arranjos de Henry Mancini. O elegante George Shearing partiu, aos 91 anos, no último dia 14 de fevereiro.


Estamos também em bloguidonoleari.blogspot.com e cadernosete.com.br

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

MÁRIO DE ANDRADE.


                             
                    Mário de Andrade(09/10/1893 – 25/02/1951).

Nesta data, há 66 anos, falecia Mário de Andrade, um dos fundadores do movimento modernista no Brasil. Autor do conhecido romance “Macunaíma”, literalmente, foi Mário de Andrade que colocou a música brasileira nas alturas. A partir de suas pesquisas pioneiras do nosso folclore e de danças e cantos populares, o brasileiro passou a visualizar os contornos e estruturas de sua música, consequência de uma excursão pelo Norte e Nordeste nos 20 e 30. Com uma câmera de filmagem e um gravador de fio, Mário de Andrade colheu e distribuiu para o Brasil o seu próprio retrato. Quem se aventura e se deleita em conhecer a nossa música não pode deixar de viajar nas obras  “Ensaio Sobre a Música Brasileira”, “Pequena História da Música Brasileira”, “Modinhas Imperiais”, “Música do Brasil”, “Música, Doce Música” e “Dicionário Musical Brasileiro”.



quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

David" Fathead" Newman.


David "Fathead"Newman, vivo fosse, estaria comemorando hoje 78 anos. Deixou-nos há dois anos. Sempre foi um músico R&B, tendo tocado com Ray Charles por um longo período. Trabalhou com outros mestres como Eddie Harris , King Curtis e James Clay. Tocou com Ornette Coleman, Herbie Mann, Aretha Franklin, e sua carcterística era seu sopro forte moldado pelo R&B. Foi um ilustre não cotado mas sempre lembrado.

SEINFELD BAIXOU EM MIM.

 

 Ouçam enquanto leem


Um casal amigo perdeu as chaves do carro. Isso foi constatado após um delicioso café na Praia do Canto, beirando as dez da noite. Pânico. Como o casal mora além terceira ponte nada mais poderia fazer do que eu oferecer uma turnê ida e vinda sobre o Atlântico, recuperar a chave reserva e salvaguardar o carro zerinho mal estacionado. Final feliz.


Dia seguinte o casal telefona para convidar para um almoço de agradecimento pela reles gentileza. Ok, pensei. Mas depois me apavorei. Descia sobre mim um personagem da série Seinfield da Sony: George Constanza. Deu paranoia.


George Constanza, para quem não o conhece essa genial série Seinfeld, de Larry David, é um paranoico, pão duro e mau caráter A carga do personagem sobre mim apavorou-me. Logo eu? Por que esse pânico gratuito? Passei a deslumbrar uma futura retribuição. Por que me convidaram para um almoço por conta de uma simples carona? Tenho que retribuir, claro. Aí fiquei em dúvida se deveria aceitar ou fazer o tal doce. Aceitei sob protestos, como o faria Constanza. Nunca mais dou carona, pensei. De repente retribuiria com outro almoço. Aí o ciclo não teria fim. Almoço pra cá, almoço pra lá, uma conta sem fim. Até me imaginei colaborando no roteiro de uma episódio sobre essa turma cujo final seria o Constanza não comparecendo ao almoço e depois arrependendo-se pois, o prato principal do convite era o seu favorito. Confesso que rezei pro meu santo de devoção para me livrar desse mal, dessa baixada de santo esquisita. Vade retro Seinfeld.


Bem, o almoço foi delicioso e a companhia super agradável.Nas despedidas já exorcizado o fantasma de Constanza, agradeci muito a excelente tarde. Então o casal sentenciou: você pode retribuir com um almoçozinho na sua casa, com um camarão por exemplo que você tão bem sabe fazer.


Voltei para casa e acendi uma vela.
_____________________________________________________________
Estamos também em www.blogdonoleari.blogspot.com e www.cadernosete.com.br

VOLUNTÁRIOS DA PÁTRIA SONORA.

                        Quem São Nossos Heróis Sonoros ?



                                                                                                                               Rogério Coimbra.

A partir de uma crônica de Oleari em A Gazeta, nosso bom guitarrista Victor Biassutti escreveu ao capo e o mesmo transcreveu a missiva para o jornal: era uma resposta a essa crônica queixosa em relação à invasão da chamada música sertaneja de universitário, ou, breganeja, nos bares da Praia do Canto e adjacências.
.

Diante o alerta sem esperança de Oleari, Biassutti ergueu armas e partiu para defesa de caminhos alternativos os quais, de certa forma, podem funcionar como ferramenta de persuasão junto aos que alimentam essa cultura “breganeja”, ou também o “bregode” (pagode brega).

No fundo falta informação, educação a essa turma que se alimenta musicalmente de inopiosos nutrientes para a alma. Músicas fracas, letras frágeis, que se diluem com o tempo e, inevitavelmente, deixa a turma com um quero mais apenas para sentir o tum-tum-tum motórico da música como se fossem primitivos, os menos dotados da sociedade. Pobres universitários ou vestibulandos de mau gosto.

Assim como acerta seus acordes na guitarra, Biassutti acerta em levantar a bola da turma que está produzindo um material de qualidade e que pode até servir como remédio para recuperação desses pobres de espírito. Não estão todos no mesmo espaço social? Não são vizinhos nessa elegante área de lazer? Por que só se fazem ouvir os medíocres?

Ao indicar nomes como o de Oleari, Tarcisio Faustini, Marien Calixte, Edu Henning, Salsa, e o seu próprio implícito, como incentivadores, além dos inúmeros músicos e intérpretes, verdadeiros atores dessa guerra, veio-me a sensação é que eles são os nossos Voluntários da Pátria Sonora. Permito-me entrar no jogo como, digamos, um correspondente de guerra, observando as ações no front.

Eu mesmo fui seriamente ferido. Tinha o hábito  nas noites dos domingos fantasmagóricos de Vitória saborear mariscos num restaurante perto do canal do Rio Marinho. Brisa do mar, cheiro marinho. Fui escorraçado da área pois, no bar ao lado, passou a ter música sertaneja universitária ao vivo e num volume insuportável. Como saborear crustáceos ao som de uma música que cheira a cocô de boi no pasto?

A luta continua. Certamente a boa música vai derrotar a má música. Confio nos Voluntários da Pátria Sonora para varrerem o lixo cultural das calçadas da minha querida Praia do Canto.

Estamos também no www.bloguidonoleari.blogspot.com e www.cadernosete.com.br

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

A Boa Bossa dos Capixabas.



Ainda dizem que a BN não deixou um enorme rastro pela Praia do Canto, nos anos 60. Para você, quinze momentos evidentes.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

História da Bossa Nova em Vitória. Introdução




Ouçam...


O Que Vitória Tem a Ver Com Essa História ?


                                                                      Rogério Coimbra.




Maio de 2007: Dois Anjos me procuraram num café da Aleixo Neto, Praia do Canto O papo de anjo era sobre a Bossa Nova, sobre Nara Leão. Um festival para homenagear a cantora musa daquele movimento que estava preste a comemorar 50 anos. Os irmãos Tinoco e Erildo não pareciam ter intimidade com aquela música mas sabiam por certo que fora plena em nossa época, em nosso espaço, abrangente, de qualidade, diferente da música que nos sufocava todos os dias no rádio e na televisão. Pobre Brasil, distante de sua melhor parte. Animei-me a não deixar que se esquecessem da Bossa Nova, logo ela que por aqui em Vitória, foi tão importante. Vitória foi toda Bossa Nova em seu começo. Resolvi então levantar junto a alguns conhecidos fatos daqueles bons momentos.

Lembrei-me de imediato dos bondes e paralelepípedos, das quadras de vôlei na Constante Sodré e Joaquim Lírio, das festas do Praia Tênis Clube, dos Jogos Praianos, dos galetos do Iate Clube, das noites, tardes e manhãs de violões nas varandas de nossas casas, e nas  dos amigos. Lembrei-me de Roberto Menescal, de Cariê Lindenberg, José Maria Ramos,de Carmélia de Souza, dos clubes Iate e Praia, de Maysa, Ronaldo Bôscoli, Luiz Carlos Vinhas, Silvinha Telles, minha irmã Nilze, tudo aqui, na Praia Comprida, na do Canto e na de Santa Helena. Nilze era quem sempre me levava a todos os lugares, para as festas, para as reuniões, para os shows, ela comprava os discos e os livros. Os amigos dela eram todos praticamente adultos, 7, 8, 10 anos mais velhos que eu. Fui aprendendo. Fui uma testemunha ocular da então Bossa Nova que se alastrava pela região leste, antes de ser sudeste.

E o que Vitória tem a ver com a Bossa Nova, perguntam os Anjos. Posso esclarecer? Acho que tudo, naquele tempo, tudo. Vitória tinha a ver com a Bossa Nova: seu ambiente, sua cordialidade, sua ingenuidade e também sua intensa capacidade de entender e absorver um dialeto musical tão singular que surgiu da linguagem nativa da terra irmã carioca. A Bossa Nova aqui encontrou abrigo e paz em momentos diversos, desde seu nascimento até hoje, já cinqüentona e madura. Agora ela pertence aos japoneses, aos europeus, aos norte-americanos, ao mundo enfim. Mas Vitória foi contaminada, sentiu plenamente a virulenta Bossa Nova, naquele encontro marcado, macro organismo in vitro, in Vitória, insight. Evanilo Silva, violonista, personagem central dessa contaminação disse  à jornalista Ana Nahas:

Não havia ninguém que tocasse a bossa nova como nós aqui. Vivíamos ao mesmo tempo em que as coisas estavam acontecendo. Com o tempo foram chegando a Vitória músicos da Bossa Nova. Não sei se em outras cidades tinha gente como a gente. Não sei porque. Estava efervescendo o nascimento da bossa nova. Volta e meia esse pessoal vinha passar uns dias aqui.    (continua).


Texto original da Revista do Festival Vitória Bossa Nova-2008.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

FRANCISCO DE VACAS.

Notícias Sobre De Vacas Dirigidas aos Barrenses, do Jucu.

Em dezembro de 2006  tive o prazer de participar de uma mesa redonda do Centro Cultural Majestic quando a memória cultural de nossa capital foi debatida. Prazer maior foi conhecer o empreendimento e a abnegação da família Câmara Gomes em favor de nossa cultura. Maior satisfação foi conferir a presença de ilustres barrenses, ou seja, de moradores da Barra do Jucu, patrimônio natural e cultural de nossa região metropolitana. Gente como Paulo DePaula, Kleber Galveas, Atilio Nenna B, além do próprio organizador, Rubinho Gomes, lá estavam e o entusiasmo deles sobre alguns comentários meus sobre a presença de Francisco De Vacas no Espírito Santo, movem-me a dar notícias dessa personalidade a esses e outros ilustres barrenses, ou aos vila-velhenses em geral.

Francisco De Vacas é considerado oficialmente a primeira personagem da música popular brasileira, e, por que não dizer, da música brasileira em geral. Assim reza a historiografia oficial. Mas deixem-me contar minha história primeiro.  Em 1993, dois amigos que já se foram, o maestro Jaceguai Lins e o historiador Janes De Biasi, deram-me a dica que José Teixeira de Oliveira em seu livro “História do Espírito Santo” citava a presença de um músico na Capitania. Pois lá estava o registro na página 64 que De Vacas ocupava as funções de provedor da Fazenda e juiz da Alfândega, além de uma nota esclarecendo que ele era um excelente chantre e que também vivia metido em complicações policiais. Coincidentemente iniciava a leitura de “Raízes da Música Popular Brasileira”, do mestre Ary Vasconcellos (Rio Fundo Ed., 1991) e lá estava De Vacas como o primeiro personagem oficial de nossa amada música, fato referendado pelos pesquisadores Luiz Heitor em “150 Anos de Música no Brasil” (Ed. José Olympio, 1956) e Afonso Ruy em “Boêmios e Seresteiros Baianos do Passado” (Ed. Progresso, 1954). Diante de tais informações nada mais natural idealizar o nascimento da nossa popular música em solo capixaba, haja visto que o gajo por aqui morou, ensinou música e depois de três anos, supõe-se, mandou-se para a Bahia.

O pesquisador e jornalista Roberto Moura, um amigo que também partiu em outubro de 2005, certa vez leu com antecedência minhas notas para o CD “Vitória Instrumental”, lançado em 1999 e, com mais antecedência ainda precipitou-se em comentar o fato em seu livro “MPB – Caminhos da Arte Brasileira Mais Reconhecida no Mundo” (Ed. Irmãos Vitale, 1999) dizendo que tinha sido em Vitória o primeiro registro de nossa música, conforme Ary Vasconcellos. Uma bela confusão, uma bela misturada. Comentei com Vasconcellos o ocorrido e ele ficou satisfeito com a “descoberta” e gentilmente comentou que não deixaria de citar meu “achado” por conta da próxima edição do “Raízes”.  Ambos se foram. Ficou o dito pelo não dito, porém, o mais importante é que caiu na boca do povo, digo, na boca da história, e dessa forma é que se passa a contar o nascimento da Música Popular Brasileira como fato ocorrido no Espírito Santo, em Vila Velha para ser mais específico, razão deste meu recado aos barrenses. Quando lancei o CD “Vitória Instrumental” em 1999 o jornalista Eustáquio Palhares ao ler minhas notas sobre De Vacas comentou: “o Espírito Santo deveria erguer um monumento por esse fato...”

Hoje, pode-se achar na web em pelo menos dois sites, no do Colégio Rainha da Paz de São Paulo, e no site da Universidade Federal de Goiás, essa narração. Pronto, está na história. Ah, tem mais, pois o assunto sempre será novidade enquanto não se firmar por aqui: “A primeira referência musical que temos no Brasil se reporta ao Espírito Santo e ninguém sabe disso. O primeiro bispado no Brasil contratou um prelado jesuíta como primeiro cantor chamado Francisco De Vacas, oriundo do Espírito Santo. Portanto esse homem já fazia música por aqui”. Esse é o depoimento do Regente e Musicólogo Sérgio Dias, professor da UFES e da FAMES, em entrevista em A Gazeta (23 de outubro de 2005).

E, para corroborar, no site do Ministério da Fazenda, na seção de história da Alfândega no Brasil, está lá, bem claro, que Francisco De Vacas foi Provedor da Fazenda Real e Juiz da Alfândega na Vila do Espírito Santo, entre 1550 e 1552, ano esse em que a capital foi transferida para uma ilha vizinha, hoje a capital Vitória. Assim sendo, amigos barrenses, vila-velhenses, De Vacas é vosso. Por que doar, exportar, renunciar, conceder nossa história aos baianos? A história é oficial, basta agora repassá-la com determinação e segurança aos nossos conterrâneos e aos que nos visitam. A Musica Popular Brasileira nasceu em Vila Velha.
Quanto à história de De Vacas, depois eu conto: que nos poupem os baianos.

Rogério Coimbra.
Publicado no site www.taru.com.br em 06/02/2007.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

DOMINGUINHOS AMANSOU YAMANDU.


                                    Dominguinhos amansou Yamandu.

Tive a sorte de assistir ao programa Sem Censura da TV Brasil no dia 04 de fevereiro. Leda Nagle entrevistou Dominguinhos e lá estava o indomável Yamandu Costa. Sempre tive um pé atras em relação a esse violonista gaúcho. Desde a primeira vez em que o ouvi, e por muitas vezes, sempre me incomodou sua inquietação em disparar como metralhadora um sem número de fusas e semi fusas, mutilando literalmente a estrutura melódica das músicas. Irritante, além de ser arrogante. O inverso do cara é o coroa conhecido por nós como o doce e manso Dominguinhos.

Dominguinhos contou sua vida no programa em poucas e boas palavras, sua trajetória com delicadeza e flagrante generosidade. Aos treze anos chegou no Rio e seu pai logo procurou Luiz Gonzaga que se tornou o protetor do menino. Chamavam-no de Neném, Neném do arcodeom.  Dominguinhos conta que o início de sua vida profissional na noite, independente, aconteceu em Vitória onde morou por um ano. Tocava na Boite Vagalume, na verdade um cassino, em Campo Grande, onde também atuavam Hélio Mendes, piano, Maurício de Oliveira e Paulo Ney, guitarra, Betinho, bateria e Cícero Ferreira, quem Dominguinhos fez questão de lembrar como grande pistonista e cantor. Disse ele que ficavam até o amanhecer tocando e foi nessa época que aprendeu a diversificar seu repertório, com sambas-canções, boleros e choros. Voltou para o Rio e virou Dominguinhos.

Mas o que interessa é o depoimento bem-humorado de Dominguinhos em relação a Yamandu Costa. Disse ele que o gaúcho tocava rápido demais, era muita nota pro gosto dele. E quanto mais rápido ele tocava mais desdobrava no acordeom as melodias, forçando o mais rápido a se amansar. Disse que o pessoal do jazz com quem ele brincava às vezes também era assim. E ele sempre desacelerando a turma.

Vou fazer uma prece para agradecer essa magia. Finalmente alguém teve a firmeza de amansar o intrépido Yamandu, ele, São Domingos, um santo por esse milagre.

Ouçam “Molambo” com a dupla.

VILLA LOBOS, SEMPRE.









Villa-Lobos , Sempre.



Confesso que me escapou a data de comemoração dos 120 anos de Heitor Villa-Lobos, dia 05 de março último. Aliás, não me lembro de ter visto na mídia nada a respeito a não ser em A Gazeta, em matéria assinada pela sensível Gisele Arantes, mas o assunto me foi alertado por Nenna, sempre ligado. Verdade, verdade, eu é que ando mesmo meio desligado da mídia oficial, a não ser aquela que se estampa na tela do meu monitor. Por isso é que se chama a outra mídia de alternativa, como o é o site www.taru.art.br.

Heitor Villa-Lobos vai além da música: ele passa pela cidadania do brasileiro, tendo sido capaz de introduzir o ensino da música na rede oficial de ensino da década de 40 (já abandonada).  Pobre brasileiro que pouco sabe de si mesmo, mas que teve entre os seus um homem da envergadura de Villa-Lobos cuja obra é a síntese do povo brasileiro e de seu ambiente, sempre em constante ebulição. Assim é a música do Villa: ebulitiva.

Para ilustrar o artigo de Nenna, com a importante revelação de que a peça Choro nº 12 teve elementos básicos na sua concepção a partir de pesquisa do mestre em solo capixaba, e somar mais informações ao privilegiado leitor de Taru, transcrevo abaixo trecho de livro de José Louzeiro que cita a passagem de Villa-Lobos pelo Espírito Santo.

“Villa-Lobos começou sua viagem por Vitória, no Espírito Santo. Impressionou-se com a beleza do vale do rio Doce, os rouxinóis, curiós e pintassilgos, com os beija-flores. Pelegrinou de cidade em cidade, tocando violão, ganhando uns trocados e conhecendo pessoas, ouvindo os músicos de cada lugar, participando das danças dos caboclos e de suas cantorias, como nos tempos em frequentava a pedreira da Glória, onde as meninas brincavam de roda e cantavam ciranda, cirandinha, vamos todos cirandar...
No caderno de viagem e na vaga da pensão mais ordinária, fazia anotações. Recolhia letras de cantigas, registrava os falares dos camponeses e pescadores, com suas canções de trabalho, procurava descrever certos instrumentos musicais, produzidos em madeira ou casca de coco, divertia-se com o fenômeno do eco, na grande extensão do vale, demorava-se nas feiras livres de Vila-Velha, Cariacica e Cachoeiro de Itapemirim. Relacionava-se com os imigrantes suíços, alemães e açorianos, aventureiros como ele, que lá estavam para enriquecer com os frutos da terra, enquanto o futuro compositor pretendia fazer fortuna cultural, a partir da musicalidade daquela ensolarada região.

Após alguns concertos em casas de ricos fazendeiros com músicas dele próprio e dos chorões, seus companheiros, pôde comprar uma passagem de terceira classe e seguir navio para Salvador, na Bahia.”


(José Louzeiro – “Villa-Lobos, O Aprendiz de Feiticeiro” – Ediouro, 1998 – págs. 41 e 42)



Rogério Coimbra.
Texto publicado no site TARU, em 22/03/2007.