sábado, 29 de dezembro de 2012

EARL HINES, UM PROFESSOR.

Earl Hines (1903-1983) faria 110 anos neste dia 28. Desde 1922 personificou seu toque ao piano, tendo acompanhado desde Louis Amstrong a Ella Fitzgerald, Charlie Parker, além de eternizar duetos com Duke Ellington. Foi um moderno em seu tempo.


domingo, 16 de dezembro de 2012

Peter Nero.

Peter Nero ( 1934 ) é um pianista de New York, com muito talento e idéias de mixar o clássico com o jazz. Talvez não tenha sido nem um , nem outro, mas, é Peter Nero.





domingo, 25 de novembro de 2012

Música No Espírito Santo: Manifestações Em Vitória e Arredores.





Manifestações em Vitória e arredores.

                                                                                         Rogério Coimbra.


Na década de 1830, por razões religiosas, surgem em Vitória as bandas Caramuru e Filarmônica Rosariense. Pertenciam a irmandades devotas a São Benedito. A sede dos Caramurus era o Convento de São Francisco, na Cidade Alta, onde ainda está conservada parte de sua edificação enquanto que, os Peroás, tinham sede na Igreja do Rosário,essa ainda com seu aspecto original, em cima da atual Rua do Rosário. Essas duas bandas eram presença em todos acontecientos em Vitória, desde os cultos religiosos até solenidades políticas, passando pelo carnaval.

 Mas há que separar o técnico do improvisado. Grupos musicais formados por negros alcançaram notoriedade e reconhecimento desde a chegada de D. João VI em 1808. A corte ficou deslumbrada pelo que ouviu em vários pontos da colônia. Eram as orquestras de escravos.

 No Espírito Santo há notícia de um grupo musical de escravos, registrado pelo Bispo do Rio de Janeiro, D. José Caetano da Silva Coutinho, em 1812, quando pernoitou em Araçatiba. Relata o bispo:

“Vim dormir no belo e bem conservado Hospício dos Jesuítas, que hoje é morada e a principal fazenda do meu amigo Falcão, onde ouvi a boa música dos seus escravos...”

Sete anos mais tarde, em 1819, o bispo D. José Caetano retorna ao Espírito Santo e dessa vez registra:

“No dia 20 vim embarcado para a fazenda do Padre Torquato no sítio Barra no formoso Jucu no sítio Jucuruaba, fazenda do boníssimo Joaquim José Fernandes, senhor de 8 músicos que me têm acompanhado constantemente mas que não me parecem tão bons como os de Araçatiba e crismei umas duzentas pessoas que deram onze patacas. Ladainha cantada e acompanhada a órgão pelo incomparável João Barbosa, e muita gritaria por toda negraria.”

Não há muitos registros mas consegue-se captar nas entrelinhas das narrativas a força do duo tambor-viola, evidentemente sustentado pelo descendente africano e indígena, que mais tarde evoluiria para formação das congadas.
Ganhou literalmente terreno a força do tambor aliada à viola e à espontaneidade da dança. O duo viola-tambor era a base da música popular emergente. O brasileiro adota essa forma como expressão mais significativa.

Em suas viagens pelo Espírito Santo, o Príncipe Maximiliano, em 1815, registrou a fabricação da viola aliada ao tambor:

A três léguas da capitania – Vitória – conseguimos pouso para a pequena ‘povoação’ de Praia Mole. Ali numa verde planície um pouquinho acima do nível do mar encontram-se esparsas várias habitações. Numa delas encontramos amigável acolhimento; e como todos habitantes tivessem muito gosto pela música, fomos à tardinha, agradavelmente entretidos com música e dança. O filho do hospedeiro que era muito hábil na fabricação de guitarras (violas) tocava e o resto da meninada dançava o ‘batuque’ entregando-se a estranhas contorções do corpo, batendo palmas e estalando dois dedos de cada mão alternadamente, imitando as castanholas dos espanhóis. Embora os portugueses tenham grande talento natural para a música, não se vê pelo Brasil outro instrumento senão a ‘viola’.


Já em 1818 Auguste de Saint-Hilaire, ao passar pela região do atual município de Aracruz, registrou:

“Saindo de Barra de Riacho encontrei a uma meia légua de sua embocadura vastas pastagens e um lugarejo habitado por índios civilizados que cultivam a terra e criavam gado. [...] Neste distrito os índios civilizados fazem viola para seu uso com a madeira de jenipapeiro e uma outra madeira branca e extremamente leve da qual o nome é tajibibuía.”

Quanto à citação da imitação das castanholas não é de se estranhar esse hábito por aqui pois os espanhóis vieram para o Brasil desde o início da colonização. O padre Anchieta era espanhol. A viola, o violão e as castanholas vieram da península ibérica. Apenas para ilustrar, eis um relato do Padre Antunes Siqueira sobre um cena de rua em Vitória, cerca de 1850:

“Um grupo de 12 meninos, dirigidos por dois guias, cantavam e dançavam ao som das castanholas. Dialogavam aqueles em versos portugueses e castelhanos, e convidavam-se reciprocamente para as folias das festas.”
______(continua)______


quinta-feira, 22 de novembro de 2012

FELIZ DIA DA MÚSICA.

Santa Cecília, ora pro nobis, conserve infinitamente nossos ouvidos puros, abertos para a música de tantos, como a dos cujas fotos perfilam a galeria deste blog. Não permita invasão de lixo sonoro em nosso mundo, livrai-nos do mau gosto, amém.


segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Música No Espírito Santo (II) - Os Primeiros Grupamentos



         Música no Espírito Santo: Os Primeiros Grupamentos.

                                                                     
                                  
                                                        Rogério Coimbra.

  Os jesuítas foram expulsos em 1759. Meio século antes o Espírito Santo já se fechara para cumprir sua função de cinturão armado em defesa das minas gerais. O estudioso Oscar Gama Filho considera esses dois fatos como prejudiciais ao desenvolvimento de nossa cultura, consolidando o lugar periférico ocupado pelo Espírito Santo no contexto nacional, com repercussões até hoje.

A cultura capixaba entrou em coma, vindo a ter um início de sobrevida em meados do século XIX, com o início do plantio de café e, paralelamente, com a chegada dos imigrantes, em sua maioria italianos e alemães, além dos escravos africanos. Seria um renascimento.

Apesar do Espírito Santo ser um estado primordialmente indígena até esse momento, pouco ficou marcado como indígena na história de nossa música. Aliás, ignora-se algum descendente de índio que tenha inscrito seu nome na História da Música no Brasil, ao contrário do que sucedeu com os descendentes dos escravos.

A Igreja na verdade repassou muito mais seus ensinamentos musicais ao negro, que mais se interessava pela música e conseguia assim escapar do anonimato, pois para ele era uma forma de ascensão social, ou seja, servir à Igreja através da música era alcançar uma função social mais nobre. As irmandades religiosas adotaram muitos desses músicos.

Na transição do século XVIII para o XIX, as descrições de festas e cerimônias mostram a presença de grupos instrumentais e vocais formados em sua maioria por negros e mulatos, nunca por índios ou mamelucos.

   Em 1828, o presidente da província Inácio Acióli Vasconcelos elaborou um relatório estatístico sobre nossa província, e pateticamente assim ele descreve a atividade musical entre nós:

“A música na capital se compõe de oito pessoas, todas da mesma família e que tocam as mesmas peças em todas as festas, que compõem um rabecão, 2 violinos, 1 flauta e 4 cantores e, se sucede isto com esta arte divina o que acontecerá com as outras!”

Arriscamo-nos a apontar o Major Francisco de Paula Xavier como o personagem citado por Acióli Vasconcelos. O Padre Antunes Siqueira, excepcional cronista dos costumes capixabas, em seus escritos sobre fatos ocorridos a partir da década de 1830, comenta por duas ocasiões:


 “Assim, [...] erguia-se no plano em que termina a ladeira do Palácio [...], junto à velha casinha em que habita a família do major Paula, prestimoso cidadão, antigo mestre de música religiosa e profana [...]”

Ou

“Além dos atos religiosos [...] e nos quais funcionava a música do major Paula cujo instrumental compunha-se de um violoncelo, tocado por ele, de duas rabecas, uma do mestre Inácio [...] outra do padre doutor Alvarenga, e a vocal dos habilidosos cantores de orelha, Marciliano, Inácio dos Remédios, insigne barítono, Manoel das Neves, José Francisco Costa, Náutibus, que entoavam um cantochão figurado [...]”

Informação mais contundente sobre o grupo do major Paula está relacionada ao evento de 5 de maio de 1854, relatado por Maria Stella de Novaes, quando a imagem de São José era devolvida à Igreja de Queimado, na Serra:

“No dia seguinte, dia 6, na Matriz de Vitória, com a presença do clero, do presidente da província Dr. Sebastião Machado Nunes, do povo, da Tropa de linha, Música de Barbeiros do major Francisco de Paula Xavier, etc, procedeu-se a benção da imagem pelo vigário da capital.”  

A música dos barbeiros constituía–se de grupamentos, surgidos em meados do século XVIII, formados por homens livres, autônomos, sem muito esmero técnico, mas de apelo popular, que ocupavam as portas das igrejas e eram presença obrigatória nas festas populares. Pura atividade liberal, ruidosa, de livre interpretação. Desses grupos surgiram as bandas civis. Curiosa a associação à atividade dos barbeiros, profissionais com excelente habilidade manual, não só para a tesoura, como para instrumentos odontológicos e mesmo para socorros como sanguessugas, ou, sangrias.


 Chamavam-se a esses grupos também de ritmo de senzala. Era o nascente ritmo afro-brasileiro. Em meados do século XIX, o Rio, economicamente mais ativo, vê surgir pequenos grupos substituindo os grupos de barbeiros, quando a classe média cria o choro, enquanto que em Salvador, mais lenta em seu desenvolvimento, surgem bandas militares democratizadas para brilhar nos coretos das praças públicas.

                                                                       (continua)


terça-feira, 13 de novembro de 2012

Música No Espírito Santo - Primórdios.




Música no Espírito Santo: sua origem e formação.
(primórdios e evolução).



                                                          Rogério Coimbra. 




    A história da música feita no Espírito Santo é a própria  história da música no Brasil não fossem os obstáculos impostos em pleno século XVIII quando o Estado ausentou-se do processo sócio-econômico ocorrido naquela ocasião. A formação da música no Espírito Santo obedece ao mesmo roteiro de outras músicas regionais,  que inicialmente contracenam dois elementos, o indígena e o europeu, aos quais se acrescenta pouco depois o escravo negro.

   A disseminação da prática musical em solo capixaba pode ter tido início a partir da chegada dos jesuítas, ou seja, em 1551. A musicalidade do índio sempre foi ressaltada pelos historiadores e Pero Vaz de Caminha já em sua célebre carta descreveu ofícios religiosos e folguedos realizados pelos portugueses em que a participação dos indígenas era imediata e espontânea. Era só o português soprar suas trombetas que o índio imediatamente soprava suas buzinas. Foi uma integração total durante os dez dias em que a esquadra esteve ancorada em Porto Seguro.

Portanto, desde o primeiro momento, o índio esbanjou musicalidade. A música era uma arma usada pelos jesuítas para cativar o nativo. Usavam principalmente as crianças e muitas vezes as enviavam ao Rio de Janeiro para um melhor aprendizado.

Saint-Hilaire, nas anotações sobre sua viagem ao Espírito Santo,  em 1818, registrou que se ouviam com freqüência, na Igreja de Reis Magos de Nova Almeida, grupos musicais formados por índios de extrema habilidade.

   No entanto, a preocupação dos jesuítas era mais a salvar almas do que a de desenvolver a música em si. Com a expulsão dos religiosos em 1759, muito se perdeu, ao contrário do trabalho das Missões no sul: hoje pode-se identificar a harpa como um instrumento da cultura popular entre os descendentes dos índios do sul, principalmente no Paraguai.



   A música utilizada pelos jesuítas entre nós era mais elemento de apoio às montagens teatrais, denominadas autos religiosos; temos registro de três importantes momentos em solo capixaba:

-         Em 1584, com o “Diálogo da Ave-Maria”;
-         Em 1586, com o “Auto da Vila de Vitória ou São Mateus”;
-         E em 1587 com o “Diálogo de Guaraparim”.

Sempre vale ressaltar a presença entre nós de Padre José Anchieta, falecido em 1597, que teria composto músicas na forma de catira ou cateretê, uma dança indígena, para festas em Santa Cruz, Vila do Espírito Santo e Nossa Senhora da Conceição.

(continua)


quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Edgar Gianullo.



Edgar Gianullo, talvez por viver em São Paulo e ter escolhido a publicidade como atividade profissional, permitiu que seu talento musical não se fixasse na memória de nós pobres nordestinos. Por isso não seja- Música Nas Alturas registra esse talento. Para ilustrar reproduzimos texto de Toquinho, um dos nossos mais competentes violonistas, sobre sua admiração por Edgar Gianullo enquanto aprendiz.
“Próximo à vitrola, passava manhãs inteiras na intimidade com o violão, debruçado nas gravações de Baden Powell, afundando-se nos discos, como se fosse possível visualizar a agilidade das mãos do grande violonista. Instigava-lhe a vibração flamenca de Baden, e procurava deduzir e aplicar no próprio violão os movimentos dos dedos, o jeito de puxar as cordas no rastro de um som cada vez mais puro.

Não se contentava com o que já sabia, queria aprender muito mais. Paulinho Nogueira o introduzira no universo do violão que compreende a descoberta da passagem do acompanhamento para o solo. Como fazer do acompanhamento um solo. “De repente virei um solista de violão, e só”, explica Toquinho. “Faltava-me versatilidade para outras coisas”.
Nos bailes de formatura animados pela orquestra Simonetti, ao invés de dançar, ficava o tempo todo próximo da orquestra observando Edgar Gianullo “estraçalhar” a guitarra: “Eu ficava abismado em ver como ele harmonizava. Era daquilo que eu precisava. Queria aprender todas aquelas inversões de acordes que só ele sabia fazer”.

De sua posição no palco, Edgard estranhava aquele garotão lá embaixo, na pista de dança, sem dançar, parado em sua frente, olhos grudados em tudo o que ele fazia. Nos intervalos, Toquinho tentava conversar: “Inversões incríveis essas que você faz...”. O músico desconversava, afinal, quem era o doido falando em acorde naquela hora? Toquinho não desistia, no baile seguinte, lá estava de novo sugando as harmonias do Edgard. Até que um dia, tentou: “Você não quer me dar algumas aulas?” A resposta veio direta: “O quê? Não, não dou aulas, não gosto de dar aulas!”. Depois de muita insistência, Edgard concordou. Toquinho lembra a primeira vez que esteve na casa do músico:

– Cheguei lá, e ele me pediu para tocar alguma coisa. Nunca me esqueço, comecei a tocar “Consolação”, de Baden e Vinicius. Então, a mulher dele saiu da cozinha e veio para a sala, e ele falou para ela: “Você nunca parou pra me ouvir tocar, e agora corre aqui pra ouvir esse cara que está tomando aula comigo!”. Então, eu disse a ele: “Vim aqui aprender aquilo que você sabe melhor do que todos: harmonizar com tantas inversões diferentes .(Toquinho).


Fiquem com duas faixas: Balanço Zona Sul e Incerteza.






quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Edgard Gianullo, músico, um craque da propaganda e da comédia.

Edgard Gianullo, um craque da propaganda e da comédia. | Propaganda e Marketing com Décio Clemente

Ouvindo mais uma vez o disco "Opinião de Nara" (1964) viajei com o trio que a acompanha nessa gravação: Tião Neto (baixo), Edison Machado(bateria) e, Edgar Gianullo (violão). O disco é uma obra prima pela presença desses excepcionais instrumentistas além de um excelente resultado de gravação. Confesso que o Edgar Gianullo havia fugido de minha memória.
Além de ser um talentoso instrumentista ele é um dos mais respeitados publicitários do Brasil e criador de jingles que fizeram história.
Acima uma entrevista dele como publicitário.
Abaixo, uma participação sua com Maurício Einhorn, Arismar do Espírito Santo e Roberto Sion
Oportunamente divulgaremos faixas de seu primeiro LP solo.
Atualmente Edgar Gianullo está com 75 anos.


terça-feira, 21 de agosto de 2012

UM NOVO ESTILO NO BAR.

Victor Humberto cria um novo estilo na boemia capixaba e, após a apresentação de uma harpista, chegou a vez do premiado e talentoso cellista Sanny Souza apresentar-se ao lado do próprio Victor e de Roger Bezerra. Gente fina é outra gente. Imperdível.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

ACABARAM-SE SONHOS E HISTÓRIAS DA BOSSA.






O sonho acabou, os tempos da bossa também, mas Victor Humberto acha que não. Meus colegas de música também brincam, mas, onde estamos nós?

Oi, oi, oi, você aí. A bossa é nossa e o Oi, oi, oi é de todos. A música brasileira transformou-se tanto que não dá conta do seu próprio recado. Somos muitos mas a Bossa está quieta no lado esquerdo do peito, bem como as Modinhas e Toadas de Tarcísio Faustini ou as Canções Universitárias de Rogerinho Borges.


Nossa música, hoje, em sua maioria, são marchas, forrós latinos e muita chula chorona. Claro que nossos cantos gilbertianos ou orlandianos persistem bem como o espírito de Antônio Brasileiro ou de Alfredo Viana. Mas permanecem as marchas baianas e o forte sotaque latino, que nunca nos abandonou desde a habanera, mesmo que o pessoal universitário, do pagode e do sertanejo, não se dê conta disso. 


Recentemente nossa presença no encerramento das Olimpíadas foi ofuscada pelo sistema sonoro vigente; quem poderia competir com a energia de velhos roqueiros soltando gogó no mais alto registro vocal? Seu Jorge, Marisa Monte ou outros intimistas? Foi quase uma bossa nova competindo com o rock inglês. Olimpíada é isso, é renovação, superação. E a música brasileira caminha também em altos brados. Quem renovará? Não sei. Qual seria a seleção de futebol? Não sei. Só não vale ficar dando porrada em bananeiras só porque deu certo para poucos.


Tudo está em seu lugar, a bossa, a roça, o grito. Não há nada de errado quando nossa música marcha sob forte batuta caribenha ou brada sentimentalmente seus reclamos. A hora é de recuperar a gentileza e subir um tom, subir um degrau do pódio. Temos que voltar a ser gente e cantar alto e bom som.


Quanto ao Victor Humberto tenho certeza que seu incansável ofício diário em nos contagiar com sua música permitirá que boas e novas histórias da bossa sejam construídas.

Assim caminha a humanidade.









terça-feira, 14 de agosto de 2012

HISTÓRIA DA BOSSA NOVA EM VITÓRIA.(Conclusão)

                                                                 

                                                                       Para o músico Victor Humberto Biasutti.





História da Bossa Nova em Vitória (conclusão).

Há alguns meses publicamos, em partes, narrativas sobre o movimento musical de Vitória entre o final dos anos 1950 até meados dos anos 1960- intitulamos como a História da Bossa Nova em Vitória. Isso deve-se ao fato que a Bossa Nova causou grande impacto e influência no dia a dia da então pacata ilha de Vitória. Além da proximidade física com o Rio de Janeiro, onde nasceu o movimento, havia uma estreita relação pessoal entre os músicos das duas capitais, amadores ou não.
Aqui reproduzo o último texto publicado para dar liga à conclusão, ao final da história.

Vitória continua a mesma. Evidente que a ilha não se estendeu. O município sim, no sentido vertical e os carros se amontoam loucamente. Há algum tempo atrás Camburi era de Serra, bem como a área onde hoje está o campus da Universidade Federal. Sou  do miolo da ilha. Nasci na Praça Costa Pereira, cercado por teatros e cinemas, clubes, hotéis, bondes, sorveterias, caldos de cana com pastel, palmeiras e um barulhinho gostoso do cais, quando o mar arrebentava na maré cheia contra as pedras, atrás do teatro Glória. Hoje meu temor é outro,além daquele de encontrar alma nas ruas desertas, aliás, característica que permanece na atual Vitória, noites com ruas desertas. São os vivos que hoje me assustam. Mas continua a mesma Vitória. A ilha do Frade já foi do Lemote, do Percy, do Zé Moraes, mas voltou a ser ilha do Frade. Em Vitória é assim, muda hoje e volta depois ao que era antes. Hoje é Vitória do congo, da panela de barro, da muqueca e como sempre foi, a Vitória do poderoso vento nordeste que a acaricia diariamente, assim como a acariciou a Bossa Nova naquele tempo; é até chamada deVentória Nenhum famoso se fixou por aqui, nenhuma música foi composta em sua homenagem por aquela turma. Restou muito carinho.

Mas a Bossa Nova deixou seu rastro e não é difícil encontrar nos bares da noite, ou em gravações recentes, a forte influência de estilo que até hoje percorre o mundo. Vozes como a de Ester Mazzi, Elaine Gonzaga, Andréa Ramos, Márcia Chagas, Ava Araujo, Tammy, entre tantas, ou instrumentistas como Victor Biassutti, Pedro Alcântara, Afonso Abreu, Marco Grijó, Roger Bezerra, Paulo Sodré, os irmãos Rocha e os irmãos Paulo, entre muitos e muitos, confirmam que a Bossa Nova está viva entre os capixabas.

Lembro agora do episódio que contou Cariê no qual teve um encontro inesperado com Silvinha Telles, anônima em Vitória, acompanhada de Candinho, seu ex-marido, na boate do clube Vitória . Surpreso, juntou-se ao casal e os levou depois para saborear uma galinha ao molho pardo no antigo restaurante Mar e Terra, o único a ficar aberto nas madrugadas de Vitória. Claro, que não poderia faltar um violão naquela mesa. Depois de várias canções, e que belas canções não devem ter cantado, um freguês, notadamente embevecido com a voz de Silvinha Telles, resolveu afinal levantar-se e a ela dirigir a palavra: Como a senhora canta bem. Que voz. Se a senhora permitir, tenho um amigo na rádio Espírito Santo a quem posso apresentá-la. Tenho certeza que ele vai contratá-la!
Carinho pela cidade tinha Maysa. Comenta Lira Neto na biografia da cantora:

Vitória nunca mais esqueceria aquela passagem de Maysa pela cidade. Embora tenha dito que estava ali à procura de paz. Nem as pedras e os morros que compõem a paisagem do lugar e fazem dele uma espécie de Rio de Janeiro em miniatura – dariam crédito àquele propósito. Em uma cidade pequena, cada gueto era hiperdimensionado e ganhava ares de escândalo.

Verdade foi o furacão Maysa causador desse agito da Bossa Nova em Vitória.  Acho que nem Cariê, nem Evanilo, nem Moacir tinham idéia que aquela música nova tão delicada e rebuscda que eles buscavam antes no Rio traria à Vitória uma velha amiga da cidade pra tanto reboliço.  Maciel de Aguiar comentou na página de O Século Diário que Maysa fazia questão de dizer que era capixaba e que demonstrava orgulho da família paterna, não pela aristocrática descendência laureada pela monarquia brasileira do Segundo Reinado, mas pelo fato de muito se identificar com seu pai, amante da música, boêmio e notívago como ela.
- Em Vitória eu já era “uma Monjardim” e não deixei de ser eu mesma.

As histórias de Maysa são bem narradas pelos biógrafos Lira Neto e José Roberto Santos Neves. Mas o narrador chefe é Ruy Castro, dela e de outras histórias.

Maysa faleceu num acidente automobilístico, na ponte Rio Niterói em 22 de janeiro de 1977.

Contei historinhas. Quem quiser que conte outra. Aquela atmosfera dissipou-se. Há pouco reencontrei um antigo amigo, residente em São Paulo, que viveu aquelas auroras, magras e gordas.

Ficou igual, mas é diferente. Melhorou, mas piorou e, se piorou, melhorou um pouquinho. Temos que buscar os rastros daquele tempo. As ruas, ainda são quietas. Os homens e mulheres estão mais quietos que outrora. Havia mais música para o público. A música rasteja em pequenas casas e bares, sem regularidade.

Pequenas histórias de uma cidade que já foi chamada de Presépio, Pérola do Atlântico, Cidade Sereia, Cidade Atlântida, Guananira. Ilha do Mel, Cidade Risonha, Cidade Sol e que poderia também ter sido chamada da Capital do amor, do sorriso e da flor e, por que não, Capital Secreta da Bossa Nova?

Rogério Coimbra, agosto de 2012.










NOITE INÉDITA EM VITÓRIA.


terça-feira, 24 de julho de 2012

VIJAY IYLER, JAZZMAN DA VEZ.



Vijay Iyer é o músico da vez.

A votação da 60º lista anual (2012) da revista especializada em jazz, Downbeat, contendo músicos e álbuns preferidos de centenas de críticos e jornalista norte americanos, está sendo divulgada nesta edição de agosto. E o músico da vez, levando as melhores colocações como o “Artista do Ano”, o “Melhor Grupo do Ano”, o “Melhor Pianista do Ano” e o “Melhor Álbum do Ano – Accelerando”, além de “Compositor Revelação”.

Vijay Iyer nasceu em Nova Iorque, tem 42 anos e filho de imigrantes indianos. Sua mãe o iniciou no piano aos 2 anos e sempre esteve envolvido com a música. Fez pós graduação em matemática em Yale e partiu para um doutorado em física em Berkeley. A música o atraía e com 23 anos já tocava com Steve Coleman. Logo fez dupla por bastante tempo com Rudresh Mahanthappa.

O jazz incorpora sua música, sem abandonar a indiana clássica, a carmática, o som das ruas, a polirritmia, a experimentação harmônica, enfim, tudo que for de vanguarda para a segunda década do século XXI.

Quanto aos “tradicionais”, Maria Schneider ganhou como melhor Big Band, Brandford Marsalis o melhor Sax Soprano, Rudresh Mahanthappa como melhor Sax Alto, Sonny Rollis melhor Sax Tenor, Anat Cohen como melhor Clarinete, Herbie Hancock como melhor Tecladista, Joey DeFrancesco como melhor Organista, Bill Frisell como a melhor guitarra, Christian McBride melhor baixista, o veterano Bobby Hutcherson como vibrafonista e, Jack DeJohnette, o grande batera.  O cantor Kurt Elling pela segunda vez foi o vencedor. Esses entre tantos e tantos.

A organização dessa listagem tem na verdade um bom sentido de visibilidade de alguns emergentes dos quais não temos muita suas informação.
Fiquem com Vijay Iyler, mas fiquem sobretudo com o jazz.


terça-feira, 17 de julho de 2012

LUIZ PAIXÃO.


Professor LUIZ PAIXÃO, aos 87 anos, esbanja vigor e alegria de viver. Ele é o verdadeiro professor de paixão pela música.


segunda-feira, 16 de julho de 2012

ELIZETH CARDOSO: 92 ANOS.



Elizeth Cardoso faria hoje 92 anos. Sua carreira teve início em ambientes com a presença de Tia Ciata, Pixinguinha, Dilermando Reis e, Jacob do Bandolim, quem a lançou de verdade.

Ela pode ser considerada uma das maiores cantoras da história da música popular brasileira. Intérprete de sambas canções e depois de sambas autênticos e choros foi uma divisora de águas ao lançar o LP “Canção do Amor Demais”, com músicas de Tom e Vinícius, em 1957, com a participação de João Gilberto, sendo considerado o trabalho inaugural da Bossa Nova.

Também conhecida como a Divina, Elizeth Cardoso provavelmente tenha gravado o mais diversificado repertório da música brasileira. Ouvir, hoje, os discos de Elizeth, é conhecer a história e evolução da nossa música. Fica nossa homenagem a essa grande artista.


quinta-feira, 12 de julho de 2012

BALANÇO NA CHAPOT.

Mesmo indiferente à velocidade dos carros, a esquina Chapot com Rio Branco viveu minutos balançantes de alta qualidade: Melão, Victor, Andréa e o lusitano com ginga brasileira, Miguel Braga.
 Um bom registro, com a participação não oficial de Luiz Paixão.


terça-feira, 3 de julho de 2012

VICTOR HUMBERTO CLAREIA O TEMPO.






Victor Humberto expulsa o tempo ruim e afasta as nuvens negras sobre Vitória. Para isso cercou-se de experientes alquimistas capixabas para, com puro prazer, simples prazer, fazer música de qualidade. 
Victor Humberto, o incansável da música. Vale a pena curtir o efeito devastador de uma música transparente.