segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

CARNAVAL DE VITÓRIA: DA FENIX CARNAVALESCA AO REGIONAL DA NAIR.

BLOCO REGIONAL DA  NAIR - Carnaval 2012 - Foto: SALSA PRESS.
Vitória já teve seus carnavais famosos. Hoje o carnaval agoniza na ilha. Uma esperança possa ser a série, mesmo que pequena, blocos de bairros que desfilam uma semana antes da data oficial do tríduo momesco: “Tô Bebo”, “Praia do Canto”, “Regional da Nair”, “Das Noivas”, entre outros. Mas ainda não é suficiente. A agonia talvez possa ser influência de ter-se adiantado a data em uma semana para o desfile das escolas de samba. 

Talvez. Há 50 anos, um pouco mais, um pouco menos, Vitória fervia durante o carnaval. Os clubes tradicionais abriam seus salões desde as tardes de sábado: Clube Vitória, Saldanha da Gama, Náutico, Álvares Cabral. As orquestras eram comandadas por Mundico, Clóvis Cruz. Maestro Antônio Paulo, Maurício de Oliveira, Edson Quintaes, Maestro HO, Luizinho Taj Mahal. Era tradição na quarta-feira de cinzas pela manhã descer a orquestra do Álvares Cabral, quando sua sede era na praça Costa Pereira, e enterrar o carnaval na praça, já sob sol quente. Nas manhãs de sábado blocos sujos ocupavam as ruas.

O centro da cidade era uma multidão fantasiada dançando ao som de sucessos que saiam dos alto-falantes presos nos postes. Havia o tablado, ora na Praça Oito, ora na Esplanada, onde concentrava-se o chamado povão. A praça Costa Pereira era cenária de desfile de dezenas de blocos; o bloco dos índios, formado em sua maioria por uma mesma família, era sempre aguardado e admirado: todos portavam lanças e flechas executando uma coreografia bem ensaiada. O desfile das batucadas “Mocidade da Praia” e “Chapéu de Lado,” que desciam o morro da Piedade, era um dos pontos altos., além da batucda “Santa Lúcia”. Centenas de mascarados se misturavam entre bailarinas e piratas com o único propósito da diversão. Houve uma época em que os frequentadores do extinto Britz Bar saiam vestidos de mulher no bloco “Unidos de Carapeba”. Hoje são rarefeitos os blocos que resistem e saem pelas já não tão cheias ruas do centro.

Já naquele tempo os carnavais dos balneários pegavam fogo: de Conceição da Barra a Marataizes, passando por Jacaraipe, no Riviera Clube e o famosíssimo do Siribeira Clube em Guarapari; recentemente Barra do Sahi, Iriri e Piúma somaram animação mas, nos dias de hoje, o mais simpático e que conserva o bom humor de velhos carnavais é o da Barra do Jucu.

Mesmo sem ter o samba ainda nascido, parece que a turma do século XIX era mais animada. Transcrevo um anúncio publicado no jornal O Espírito Santense, de 04 de fevereiro de 1875:

Alerta, Alerta! Rapaziada de Gosto!
Para que as bucólicas e estapafúrdias circunscrições apologéticas do Carnaval tenham uma importante e enigmática descrição metalúrgica sinfônica, a bem da rapaziada de gosto estrambólico, previne-se com todos os ff (efes) e rr (erres) e a respectiva pontuação preambólica que, nos dias 07, 08 e 09 do corrente, haverá passeios de mascarados ao som do rataplan mefistofélico e do eco atrás do Penedo, por isso convida-se com toda ênfase e pitoresco garbo os amantes do dito supra mencionado bródio para tão faustosos dias de pândega, lindos trajes e belas momices. 
Alerta pois o resto é sorte.
Ass.: Kikiriki

Ou então o anúncio de 31 de janeiro de 1902:

Si haveis de estar em casa
Danado como uma cobra
Curtindo a raiva dos filhos
Da vossa mulher e sogra/
Sai de máscara jocosa
Com guizos e relicário
Para dançares o can can
Lá na rua do Rosário/
Aí temos boas coisas
Bailes bons, à fantasia
Salão arejado
Que outrora não se via/
Quadrilhas e boas polcas
Maxixes e boas valsa
Deveis levar( é preciso)
Boas pernas e boas calças/
Tudo isso bem mexido
Bem dengoso e requebrados
Com pimenta e com adubos
Com graças de mascarado/
Haverá valsas  escótis
E também o contraxaxo
Eu caio, Tereza, eu caio
Por baixo do Bolimbalacho.
Ass: Sociedade Fenix Carnavalesca.

Vitória hoje agoniza. Escuta-se muito o chamado “pagode universitário” e arremedos de “axé music”, aliás estilos anunciados oficialmente pelo governo municipal. Marchinhas carnavalescas vencedoras de concurso em 2011 conseguiram registro em CD. E dai? Quem as executa? O povo as conhece, sabe cantá-las? Não vem ao caso. Vitória mimetizou-se, espelhou-se no Rio de Janeiro e concentrou esforços para fazer um carnaval frechado de dois dias, fora do calendário oficial, gregoriano, religioso. A quaresma do capixaba é diferente do resto do mundo. Tudo que é empurrado de cima para baixo não funciona. O que funciona o povo deixar ferver o carnaval em suas veias, mas, o natural é que Vitória se esvazie cada vez mais nos carnavais dito populares.

Agora, uma turma vai para as praias, outra para Salvador, ou então para Ouro Preto, e, para a glória do Rio de Janeiro, claro. O resto vai chupar picolé na Praia da Costa. O féretro da folia carnavalesca de Vitória fica num vai e vem na Av. Jerônimo Monteiro, no centro, próximo à praça Oito. E as criancinhas encontram abrigo nas matinês na Escola FAFI.

Não é culpa do governo, não é culpa de ninguém. A culpa é do caranguejo.Quem manda promoverem o pobre crustáceo em símbolo da identidade capixaba? Ele vive em desandada sem gostar muito de andar para frente. Bem fez o “Regional da Nair” que não desceu o morro, como costumava o samba descer. Subiu, subiu a Rua Sete. Já é um bom sinal, subir. Vamos para cima, carnaval de Vitória. Força.


 
                         

4 comentários:

  1. Grande Coimbra,
    Até que você tem o privilégio de ter 15 dias de carnaval. Parece coisa de baiano. Não chora não.
    Os carnavais das capitais no Brasil estão se restrigindo às grandes, como Recife, Salvador e Rio. O pessoal tá debandando para os municípios. Acho que mais para fugir das confusões e violência.
    Belo texto.
    Um abraço cheio de confete.

    Ernani Salles

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  2. Grato pelo alento, Ernani.
    Mas Vitória, não é grande capital, no tamanho...são 81 km² de ilha e uns parcos 200 mil ilhéus. Assim, como todos se mandam, o território fica jogado ao pagode da pesada.
    Sou do tempo em que pai da gente dava lança perfume Rodhia (caixinha com três metálicas) para a gente "brincar" o carnaval. É muito saudosismo ?
    Grande abraço.

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  3. É....os carnavais dos anos 70,80 deixaram muitas saudades. Belas noites com boa música...bons músicos com música sempre ao vivo...

    Valeu o comentário.

    Edson Quintaes.

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  4. Obrigado pela visita, Edson Quintaes, um nome que já está inserido na história da música capixaba.
    Nada melhor que você para comparar os tempos em que a música ao vivo imperava,e, hoje, com a música mecânica de gosto duvidoso.
    Um grande abraço.

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