sábado, 1 de janeiro de 2011

MODERN SOUND

                                           

                                                                                                               
                                                      Rogério Coimbra.


O Som Moderno acabou. A mais charmosa e completa loja de discos do Rio de Janeiro, a partir de janeiro de 2011, não abre mais suas portas. Um poderoso raio intitulado internet fulminou milhares de gravações, em diversos formatos, vinis, CDs, DVDs, além de equipamentos eletrônicos, instrumentos musicais, livros, mesas, bebidas, partituras, enfim, muitos sonhos. Foram 45 anos no tradicional endereço em Copacabana, na Avenida Barata Ribeiro, 502.

Meu primeiro disco importado da Modern Sound não comprei, ganhei. Rute Casoy, uma garota com sorriso nos olhos me viu namorando Lps de John Coltrane, em 1968, e não pensou duas vezes, presenteou-me. Após sua gentileza corri para o Solar da Fossa para dividir com a turma o “Meditadions”, discão de capa grossa da Impulse. A então pequena loja era um santuário e referência da música internacional. O melhor estava lá, importado, e dava pra juntar uma graninha e conseguir o disco desejado; caso não tivesse mais era só encomendar e esperar uns dias. Quantas vezes evitei passar pela Barata Ribeiro a pé, entre a Anita Garibaldi e Santa Clara ou mesmo assistir a um filme no Bruni Copacabana que ficava na mesma galeria da loja porque a tentação era enorme e eu acabava endividado.

A Modern Sound atravessou todas as tendências da música, da bossa nova ao hip hop, mas manteve sua fidelidade ao clássico e ao jazz. Tinha tudo do mundo todo. Depois se ampliou, invadiu o antigo cinema Bruni (salvando-o de alguma igreja evangélica) e inaugurou um dos espaços mais importantes do Rio para prática e divulgação da música, o Allegro Bristô, com música ao vivo diariamente, lançamento de discos e livros. Democraticamente podia-se assistir aos shows de graça, em pé recostado nas enormes banheiras que acomodavam os CDs. Além da perda de um local de venda de produtos de música, CDs, livros, equipamentos, etc,etc, perde-se também um espaço da prática musical. A exemplo do também fechamento da casa noturna Mistura Fina, na Lagoa, o Rio sofre mais um golpe de esvaziamento cultural.
O som moderno acaba, mas o pós moderno resiste. A desconstrução da Modern Sound promete coisa nova, pois a alegre energia de Pedro Passos & família há muito ainda a revelar.

                                           Último encontro na loja com Pedro Passos.
                                          A Busca.
                                           Allegro Bristô.

                                          O jazz se despede.

                                          O vazio.

O meu adeus sonoro à Modern Sound : Steve Khun & Joe Lovano

7 comentários:

  1. Rogério, houve muitas manifestações sobre essa perda, mas poucas tão sensíveis quanto este seu texto. Sem falar da justa trilha sonora (Kuhn, que vc uma vez gravou para mim e me deu). Se eu não estava ali a teu lado quando Rute te presenteou o Coltrane, por certo estava por perto, talvez consultando os fundos antes de arriscar uma extravagância e comprar o último Miles. Todos meus importados comprei na Modern Sound. Extravagância será ficar sem isso. Esperemos os próximos Passos.

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  2. O Rio está indo água abaixo. Boa homenagem à Modern Sound

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  3. Meu pai me levava lá, a gente morava na Anita.
    Era um mundo aqueles discos e a diversão deles acabava sendo a minha. Comprei pouco lá mas sei que ali era o grande barato.
    Uma pena.
    Sandra Gomes.

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  4. Parabéns por expressar tão bem a sensação de perda que não só os amantes da boa música mas que a cidade sofre com esta noticia.
    Laura Fonseca

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  5. Prezado, traçamos algumas breves linhas no Jazzseen sobre este lamentável incidente. Sinal dos tempos...

    Saudade ou saudosismo?

    Grande abraço, JL.

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  6. Ambiente seleto, musicas e gravações seletas, sem espaço para o lixo. Templo da musica excelsa. O clássico, o jazz, a MPB em primeira mão. O bom,digo, o mau-humor de Pedrinho,fazia parte da decoração da loja; mas este, prestativo, atendia aos pedidos. Escassearam os clientes "seletos", pessoas àvidas por conhecimento.A loja esvaziou-se na maré vazante da baixa qualidade cultural que invade e impera no pais. Clovis
    .

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  7. Eu gostaria de saber onde posso encontrar Sr Pedro para continuar comprando seus discos sou cliente desde 1984 e agora ficamos sem rumo é uma pena ficarmos sem a última referência em discos.
    Quando eu telefonava e falava meu nome Sr Pedro dizia é o baiano.
    E agora onde encontra-lo?
    Alguém pode ajudar por favor.
    Eliomar (baiano)

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