Notícias Sobre De Vacas Dirigidas aos Barrenses, do Jucu.
Em dezembro de 2006 tive o prazer de participar de uma mesa redonda do Centro Cultural Majestic quando a memória cultural de nossa capital foi debatida. Prazer maior foi conhecer o empreendimento e a abnegação da família Câmara Gomes em favor de nossa cultura. Maior satisfação foi conferir a presença de ilustres barrenses, ou seja, de moradores da Barra do Jucu, patrimônio natural e cultural de nossa região metropolitana. Gente como Paulo DePaula, Kleber Galveas, Atilio Nenna B, além do próprio organizador, Rubinho Gomes, lá estavam e o entusiasmo deles sobre alguns comentários meus sobre a presença de Francisco De Vacas no Espírito Santo, movem-me a dar notícias dessa personalidade a esses e outros ilustres barrenses, ou aos vila-velhenses em geral.
Francisco De Vacas é considerado oficialmente a primeira personagem da música popular brasileira, e, por que não dizer, da música brasileira em geral. Assim reza a historiografia oficial. Mas deixem-me contar minha história primeiro. Em 1993, dois amigos que já se foram, o maestro Jaceguai Lins e o historiador Janes De Biasi, deram-me a dica que José Teixeira de Oliveira em seu livro “História do Espírito Santo” citava a presença de um músico na Capitania. Pois lá estava o registro na página 64 que De Vacas ocupava as funções de provedor da Fazenda e juiz da Alfândega, além de uma nota esclarecendo que ele era um excelente chantre e que também vivia metido em complicações policiais. Coincidentemente iniciava a leitura de “Raízes da Música Popular Brasileira”, do mestre Ary Vasconcellos (Rio Fundo Ed., 1991) e lá estava De Vacas como o primeiro personagem oficial de nossa amada música, fato referendado pelos pesquisadores Luiz Heitor em “150 Anos de Música no Brasil” (Ed. José Olympio, 1956) e Afonso Ruy em “Boêmios e Seresteiros Baianos do Passado” (Ed. Progresso, 1954). Diante de tais informações nada mais natural idealizar o nascimento da nossa popular música em solo capixaba, haja visto que o gajo por aqui morou, ensinou música e depois de três anos, supõe-se, mandou-se para a Bahia.
O pesquisador e jornalista Roberto Moura, um amigo que também partiu em outubro de 2005, certa vez leu com antecedência minhas notas para o CD “Vitória Instrumental”, lançado em 1999 e, com mais antecedência ainda precipitou-se em comentar o fato em seu livro “MPB – Caminhos da Arte Brasileira Mais Reconhecida no Mundo” (Ed. Irmãos Vitale, 1999) dizendo que tinha sido em Vitória o primeiro registro de nossa música, conforme Ary Vasconcellos. Uma bela confusão, uma bela misturada. Comentei com Vasconcellos o ocorrido e ele ficou satisfeito com a “descoberta” e gentilmente comentou que não deixaria de citar meu “achado” por conta da próxima edição do “Raízes”. Ambos se foram. Ficou o dito pelo não dito, porém, o mais importante é que caiu na boca do povo, digo, na boca da história, e dessa forma é que se passa a contar o nascimento da Música Popular Brasileira como fato ocorrido no Espírito Santo, em Vila Velha para ser mais específico, razão deste meu recado aos barrenses. Quando lancei o CD “Vitória Instrumental” em 1999 o jornalista Eustáquio Palhares ao ler minhas notas sobre De Vacas comentou: “o Espírito Santo deveria erguer um monumento por esse fato...”
Hoje, pode-se achar na web em pelo menos dois sites, no do Colégio Rainha da Paz de São Paulo, e no site da Universidade Federal de Goiás, essa narração. Pronto, está na história. Ah, tem mais, pois o assunto sempre será novidade enquanto não se firmar por aqui: “A primeira referência musical que temos no Brasil se reporta ao Espírito Santo e ninguém sabe disso. O primeiro bispado no Brasil contratou um prelado jesuíta como primeiro cantor chamado Francisco De Vacas, oriundo do Espírito Santo. Portanto esse homem já fazia música por aqui”. Esse é o depoimento do Regente e Musicólogo Sérgio Dias, professor da UFES e da FAMES, em entrevista em A Gazeta (23 de outubro de 2005).
E, para corroborar, no site do Ministério da Fazenda, na seção de história da Alfândega no Brasil, está lá, bem claro, que Francisco De Vacas foi Provedor da Fazenda Real e Juiz da Alfândega na Vila do Espírito Santo, entre 1550 e 1552, ano esse em que a capital foi transferida para uma ilha vizinha, hoje a capital Vitória. Assim sendo, amigos barrenses, vila-velhenses, De Vacas é vosso. Por que doar, exportar, renunciar, conceder nossa história aos baianos? A história é oficial, basta agora repassá-la com determinação e segurança aos nossos conterrâneos e aos que nos visitam. A Musica Popular Brasileira nasceu em Vila Velha.
Quanto à história de De Vacas, depois eu conto: que nos poupem os baianos.
Rogério Coimbra.
Publicado no site www.taru.com.br em 06/02/2007.
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