sexta-feira, 10 de junho de 2011

Carta Aberta a João Gilberto.

                             




Vale a pena falar sobre alguém que faz 80 anos. Nunca nos encontramos, nem por acidente. Estamos juntos, na terra e no ar, no rádio e na TV, no som do CD.



Quando criança ouvi “Chega de Saudade”, decorei a canção e voava na minha bicicleta repetindo, sem parar, peixinhos, abraços e beijinhos, o pato cantando na lagoa e o trevo no jardim. Sidney Miller e Paulo Thiago me ensinaram fazer o tal negócio da puxada do violão. Soube então que você fazia com 4 dedos. O mito nascia para mim.


Minha irmã disse que você e Astrud foram à minha casa, em Vitória, vizinha dos tios do Menescal, Álvaro e Noêmia Batalha Soares, e na varanda cantaram. Eu não estava lá mas sempre ficava tentando descobrir se ainda havia um tênue eco alojado nas brancas paredes abençoadas. Procurei esse eco por um longo tempo e sempre pedi à minha irmã para repetir a historinha.

A juventude que aquela brisa lançava sobre o mundo sabia que a bossa nova seria a companheira da felicidade, da paz, quem sabe da eternidade. Ela seria construída com dois pilares centrais, você e o Jobim, tendo nas extremidades desde o Caymmi, Bonfá, até o Johnny Alf e mesmo o Cartola e Geraldo Pereira, o Menescal e Carlinhos Lyra. Pela ponte passou o samba, o samba canção e seguiu com a bossa rumo ao mundo. Assim, estamos hoje pra lá e e pra cá na cadência do samba, um emblema nacional.

Você quando acaricia cada nota e a faz rir, e ir, pra frente e pra traz, com a melodia, a gente se sente num carrossel mágico, girando, girando, em volta da terra. Você criou uma nova estética, uma nova textura sonora. E só você consegue a transmutação para uma terceira entidade ao unir sua voz ao violão. Chega de saudade, chega de papo.

 É muito bom ter entre nós, neste país, com tantos expostos duvidosos, uma figura pública (!) como a sua, em plena energia aos 80. Esquisito ou não, você é o bom, é o bom, é o bom, Bim Bom. Parabéns para você.







                             

10 comentários:

  1. João Gilberto é o maior cantor do Brasil, tem uma divisão ritmica no violão que só ele sabe fazer, é o pai da Bossa Nova, Foi João quem me ensinou a cantar (com notas lisas, sem vibrato). Adoro João, amo a Bossa Nova. João é meu gurú e tenho muita saudade das inúmeras noites em que conversávamos pelo telefone.
    Parabéns, João! Feliz Aniversário e muitos anos de vida!

    Um abraço
    EsterMazzi

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  2. Uma gracinha ele com o violão, parecendo um brinquedinho. E o ritmo ´frenético, uma máquina.
    Conheço muito pouco sobre ele.
    beijão.

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  3. Então Coimbra, João Gilberto desde criancinha...
    É de fato um grande artista, único,sempre imitado, nunca igualado.
    Bem que a Santa reparou na batida dele ao violão, frenética, de fato.
    Super legal ele estar em atividade.
    Um abraço.
    Ernani Salles

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  4. José Roberto Santos Nevessábado, junho 11, 2011

    Que belo texto, Rogério. Parabéns! Você conseguiu expressar o sentimento de milhares de ouvintes. Também tenho orgulho em ter o João Gilberto como nobre representante da cultura do nosso país tão maltratado por certas elites e inimigos do povo. JG é moderno, sensível, vanguarda, é brasileiro e é universal. Enfim, é o Brasil que deu certo. Sds

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  5. Querido Rogerio, sua admiração por João Gilberto desde criança já prevendo o mito musical produziu um texto muito saboroso. Parabéns a você e a João Gilberto.
    Abraços, Elisa

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  6. Caro José Roberto:

    Partindo de você um comentário sobre nossa postagem, é para mim, lisonjeiro, e para todos, uma contestação de sua sábia visão sobre nossa música, tendo em vista seu conhecimento, experiência, e, sobretudo, bom gosto.
    Seja sempre vem-vindo.
    Um forte abraço.

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  7. Ester Mazzi,
    Sua admiração por JG é velha conhecida, como sua música, "Notícias de Paris", que diz:
    "Sozinha no meu quarto
    fumando meu cigarro....(..)
    ouvindo um som, a la João e Tom..."
    Um abração !

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  8. Minha Santa, minha Elisa e meu caro Ernani,

    Procurem os últimos registros do JG, curtam, e esqueçam a velha bossa nova. A vida continua, mesmo aos 80.

    Obrigado pela visita de vocês.

    Abrações.

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  9. Victor Humberto Salviato Biasuttisegunda-feira, julho 11, 2011

    Olá Rogério,
    Lindo o seu texto sobre João Gilberto.
    Abrangente, profundo, musical, pessoal, político...
    Os ídolos que não temos mais!
    Não o chamaria de "esquisito", mas de "exigente".
    Boas as observações de Ester, Santa, Ernani, José Roberto e Eliza. Para a Santa, da "máquina", eu diria que sempre será tempo de conhecer mais sobre João Gilberto.
    Parabéns e abraços,
    Victor Humberto

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  10. Tive sorte de , nos idos de 1974/1975, ter no Colégio Estadual (Vitória-ES) um professor de Química que muito nos incutia o gosto não somente para a Tabela Periódica,mas,sobretudo,para a Bossa Nova. Diziam ter ele um programa na Rádio Espírito Santo. Já não mais seu aluno,passei a acompanhar os seus programas. Era Edson Silva o seu nome. Gostávamos muito dele. Figura leve até fisicamente. Sutil, ele, como as participções frasais do João Gilberto. Inesquecível EDSON , musical até no nome. Muita luz nos apontou. (Marcos Tavares)

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