segunda-feira, 13 de junho de 2011

HISTÓRIA DA BOSSA NOVA EM VITÓRIA.Parte IX

E a Bossa Nova movimentou a pacata cidade de Vitória. Como uma música aparentemente tão calma em seu andamento poderia às vezes virar a ilha pro fundo do mar? A presença de Maysa em Vitória sempre fora motivo de explosões, fosse naquela época com as famosas brigas com Ronaldo Bôscoli ou mesmo muito antes, no verão de 1951-52, por exemplo, como conta Lira Neto em seu livro “Maysa- Só Numa Multidão de Amores”. Lira Neto conta que em pleno insucesso escolar Maysa veio para Vitória para abrir a temporada anual de caça aos corações masculinos capixabas. No carnaval de 52 foi eleita madrinha do bloco Marujos Por Acaso, do Praia Tênis Clube vestindo uma provocante fantasia que exibia seu corpo. Namorou o bloco inteiro, “menos eu que era o mais novinho e magricela da turma”, disse Roberto Menescal. O jornalista José Roberto Santos Neves que também escreveu uma biografia da cantora afirma que Maysa cantou pela primeira vez em público numa festa no Praia Tênis. Ela havia rompido um namoro com Guga Saletto após ele armar uma cena de ciúmes. Ela não fez por menos, foi ao microfone e dedicou uma música ao seu “ex”. A música era ‘Menino Grande’, de Antônio Maria. Dez anos depois parece ter havido um replay. Conta o jornalista Ronaldo Nascimento:

 Lembro bem da noite em que Maysa ia cantar no clube Saldanha, acabei dormindo , acordei tarde e eu fui lá de Santo Antônio a pé, pois tinha perdido o último bonde. Quando eu cheguei ao clube ela estava cantando aquela música, ”Menino Grande”,de Antônio Maria, sabe pra quem? Pra José Costa, porque naquele dia ela começou a namorar com ele. Aí o Ronaldo Bôscoli partiu para o hotel Canaã, fez as malas e se mandou pro Rio, naquele carrinho conversível. Acabou tudo naquela noite entre a Maysa e o Bôscoli. Nunca mais vi a Maysa, só depois uma vez que ela estava por aqui e tinha ido pro Bar Santos, lá na vila Rubim, com Vilmar Barroso, Lurdinha Martins, Lulu Beleza e Rachel Benezath. Eles disseram a ela que eu tinha morrido - foi numa fase que eu havia parado de beber. Era tudo uma festa. Mais tarde vim saber do desastre dela.

Ronaldo Nascimento era promotor de festas, proprietário de boate, um grande animador e conhecedor da noite capixaba. Vale à pena acompanhar seu depoimento:

 Quem vivia sempre aqui conosco também era o Antônio Adolfo, sempre passava lá no meu escritório no Vale, passava muito verão em Guarapari. Quem passava muito tempo comigo aqui também era o Chico Fim de Noite, o Chico Feitosa, e  o Nonato Buzar.
Lembro também dos encontros que a gente tinha lá na casa de Nilze Coimbra, que namorava o irmão da Maysa, Alcebíades, o Cibidinho, com aquele pessoal todo e com a Maysa namorando o José Costa na varanda.
A bossa nova deu gente nova por aqui, como o Afonso Abreu, Jorginho Saade, Mário Ruy, Virginia Klinger e eles sempre participavam das festas que eu promovia aqui, em Cachoeiro, Colatina, Governador Valadares.

Mas a gente tem que se lembrar de Paulinho Ney, um grande guitarrista daquela época. Ele veio daquela famosa boate Plaza no Rio de Janeiro onde nasceu a bossa nova. Tocava com Luizinho Eça ao piano e Ed Lincoln ao contrabaixo, era o Trio Plaza. Por aqui, em Campo Grande, Cariacica, havia um cassino e, para disfarçar, tinha uma boate na frente chamada Vagalume. Foi Graciano Espíndola quem trouxe Paulinho Ney para cá. Ele formou o Trio Vagalume com o pianista Hélio Mendes e o baterista Betinho. Paulinho Ney chegou a Vitória por volta de 1956. Depois, bem mais tarde, o trio virou quarteto com a inclusão de Marinho Carlos no acordeom, com floreios a la Art Van Damme. Depois ele foi para Governador Valadares tocar numa zona de lá, a Dulce, um cabaré fino, juntamente com um saxofonista também daqui, o Gastão Damazio.

Quem tocava de vez em quando com ele era o Hélio Macaxeira, o Hélio Esteves. Hélio de vez em quando desaparecia e fugia para Valadares. Não era um exímio pianista, mas era um boêmio. Era mais boêmio do que músico. Figura querida e inesquecível; era pai de Cristina Esteves, que casou com Antonio Alaerte, virou a cantora Chris Portella e cantou com a turma de Os Mamíferos, que era por sua vez irmã de Helinho Esteves, o Helinho Foguetão, grande violão nas serestas do Iate Clube. É bom lembrar que Leni Andrade tinha uma caída por ele, depois de se conhecerem na Bahia, um aconchego arretado: é o que sempre se soube por aqui. O Paulinho Ney quando voltou para Vitória tocou com o pianista João Virgílio. Ele faleceu há uns dois.

Paulinho Ney era talentoso, mas muito preguiçoso. Ele nasceu para dormir e tocar. Adorava acordar tarde. Quando Jânio assumiu e começou a proibir biquíni, briga de galo e essas coisas a gente falou pra ele que Jânio ia fazer uma lei que todo mundo no Brasil tinha que acordar às sete da manhã. Ele ficou apavorado. (continua).

8 comentários:

  1. Continuo afirmando: estas histórias da bossa nova em Vitória merecem um livro. Todas excelentes!. Estamos aguardando as próximas...e o livro.

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  2. Caríssimo João Luiz,

    Pois é, são historinhas do tempo da bossa nova.
    E ainda dizem que Vitória foi , ou é, uma cidade morta; pode ser fantasma, mas morta, não.
    Obrigado pela visita e pelo incentivo.
    Um abraço.

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  3. Victor (Humberto? Biasutti?)segunda-feira, junho 13, 2011

    Espetaculares...
    Estão esses capítulos sobre a Bossa in Vitória.
    Também acho, como o João Luiz, que devem ser transformados em livro.
    Há muitos nomes, muitas histórias, o que o tornaria diferente, único, capixaba.
    E muitos das "garotas" e "garotos" citados, boêmios ou não, preguiçosos ou não, ainda estão por aí...
    Abraço, Victor

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  4. Sempre adorei Maysa uma das maiores cantoras do Brasil, com um repertório lindo e romântico.
    Ouvia ela cantando nas rádios e me derretia toda...
    Ví um show dela no "Siribeira" - Guarapari, foi belíssimo. Amo Maysa.

    Um Abraço,

    Ester Mazzi

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  5. Meus caros Victor e Ester:

    Você, Victor,é um autêntico filho da BN pois intuitivamente conduz sua guitarra pelos mesmos caminhos espalhados pelo mundo desde os anos 60. Moderno, mas sem perder as peculiaridades da matiz. Bom que reconheça seus conterrâneos.
    Quanto a você, Ester, quem mais poderia estar tão perto dessa história ?
    Obrigado pela visita dos dois.
    Abraços.

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  6. Adoro suas historinhas....

    Beijão!!!!

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  7. Não perco um capítulo, muito gostoso de ler. Bjos Elisa

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  8. Minha Santa e minha Elisa,
    Feliz por tê-las aqui.
    Ainda há muita história.

    Abraço as duas.

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