segunda-feira, 18 de julho de 2011

HISTÓRIA DA BOSSA NOVA EM VITÓRIA. Parte X.




O leitor, que agora chega, pode acompanhar essa história recorrendo aos textos anteriores arquivados no marcador História da Bossa Nova em Vitória. Estamos no início da década de sessenta. Vitória recebia dezenas de músicos do Rio de Janeiro, ora para shows ou para simples lazer. A atividade instrumental na ilha era quase que maior que a própria cidade.

O baterista Betinho lembrado por Ronaldo Nascimento no texto anterior foi músico de Hélio Mendes por muitos anos e seu nome era Gilberto Mendonça Paiva, irmão de Belinho, o Gilbeli, também, de Dazinho, o Gildázio, ambos bateristas e ,de Dezinho,o Gildésio, o único guitarrista. O baterista Marco Antônio Grijó,  fez questão de comunicar que nunca foi chegado às cantorias da bossa nova e que naquela época, quando por aqui passava férias, observava apenas o conjunto do João Virgílio como assimilador do novo estilo musical e que Betinho sim, havia modernizado a bateria em Vitória. Grijó bem deve ter observado o bom desempenho de Betinho, pois esse afinal teve como mestre o célebre baterista Dom Um Romão, que morou em Vitória algum tempo pois também tocava na boate do cassino Vagalume.

O pianista João Virgílio foi o primeiro músico capixaba a gravar numa grande gravadora, a CBS, em 1962. Sua primeira apresentação foi em 1957, no Siribeira Clube de Guarapari, com o conjunto local. A partir de 1958 atuou como “free-lancer”, tocando com terceiros, participando, inclusive, das noitadas do Bob’s com o guitarrista Paulo Ney, e também tocou com Norberto Baldauf, em Curitiba. Em meados de 1960 fundou em Vitória o grupo musical João Virgilio e seu Conjunto, participando José Adalberto Rebello de Oliveira (saxofone), Waldir Oliveira (acordeon), Belinho (baterista), Ciríaco Souza (baixo acústico), Luiz Moacir, Didi (guitarra) e Waldecir Lima (percussão e vocal). Posteriormente participaram Paulo Ney (guitarra), João de Deus (saxofone-tenor) Mércio Nascimento (baixo) e João Augusto, irmão do percursionista Sabará, (bateria). 

Divertido foi o caminho que levou o grupo a gravar no Rio. Um dos mais importantes produtores da gravadora, Othon Russo, havia estado em Vitória numa festa que Marien Calixte promovera no Clube Vitória e lá ouviu e gostou do conjunto. No Rio, Othon convocou Astor, famoso trombonista e chefe de orquestra a contratar o conjunto de João Virgílio.

Um fato curioso é que a noticia se espalhou pela então pacata cidade: havia um radialista, Jairo Maia, que além de apresentar um programa diário na rádio Espírito Santo, gostava de cantar e quando surgia uma oportunidade lá estava ele junto ao microfone dos conjuntos nos bailes que os clubes da cidade promoviam. À época, eram três pianistas que lideravam os conjuntos dos clubes: o próprio João Virgílio, Hélio Mendes e Luis Carlos Castro, irmão do lendário vereador Atharé Castro. Em seu programa, o radialista-cantor insistiu na notícia de que a gravadora Colúmbia estava enviando um produtor para Vitória com o intuito de contratar o grupo de Hélio Mendes, que era o pianista que mais chance a ele dava para cantar.

A expectativa foi criada e os admiradores de Hélio Mendes ansiosamente aguardavam a oportunidade. Finalmente o diretor musical Astor chegou do Rio. No aeroporto todos os músicos de Hélio Mendes aguardavam, incluindo João Virgílio e sua turma. Para evitar qualquer constrangimento, Astor marcou um encontro para outra ocasião. Todos então se aglomeraram mais tarde na Praça Costa Pereira e, lá chegando, Astor foi logo tirando um papel do bolso e enfaticamente declarou: “vim para Vitória ouvir João Virgílio”. Foram todos para o Clube Saldanha da Gama, João Virgílio tocou e carimbou sua gravação. O radialista-cantor acabou engolindo o fato e assim, no auge da Bossa Nova, os capixabas tiveram o seu primeiro representante num dos mais importantes catálogos fonográficos do país. (continua).

João Virgílio: o primerio capixaba a gravar a então Bossa Nova, numa grande gravadora, a CBS, em 1962.

10 comentários:

  1. Victor Humberto Salviato Biasuttisegunda-feira, julho 18, 2011

    Olá Rogério,
    Excelentes suas "Histórias da Bossa Nova em Vitória". Importante resgate/registro.
    Não conhecei João Virgilio nos tempos áureos lembrados nessa sua História Parte X, mas tive o prazer de conhecê-lo mais recentemente, inclusive de ter tido a oportunidade de fazer "uns sons" com João.
    Consegui comprar o LP de João, em ótimo estado, de um vendedor de Petrópolis, através do Mercado Livre.
    E, como pode ser visto no filme do Youtube, João continua esbanjando sensibilidade, executando com maestria o seu teclado.
    Parabéns para você, Rogério, pelas "Histórias da Bossa Nova em Vitória", e para você João, por continuar nos brindando com sua música.
    Abraços, Victor Humberto

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  2. Grande Victor,
    Obrigado pela visita. Veja só, praticamente 50 anos desse disco de João Virgílio.
    As historinhas estão sempre continuando por enquanto, um pacotinho de nossa memória e, você, também está construindo a sua nesses novos tempos.
    Um grande abraço

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  3. Até que enfim as historinhas voltaram. Gosto delas, Rogério. Parece até que visualizo aqueles tempos, como num filme, com boa direção de arte, claro.
    Minhas ligações com Vitória exigem (rsrsrs) que você continue a contar mais.
    Um abração,
    Elisa

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  4. Coimbra,
    Concordo com Elisa. Fazia falta essa narração tão gostosa dos capixabas.
    Não conheço ninguém mas devem ser lindos e afinados.
    Beijão.

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  5. Minha Santa e minha boa Elisa,

    Fico feliz quando vocês comparecem aqui e sei do bom gosto de ambas pela música e por boas histórias.
    Não sumam.

    Abraços e abraços.

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  6. Amigo Coimbra, o encontro ontem na Baden, foi natural como se já nos conhecêssemos a séculos! É isso aí. Domingo, se não chover, estarei lá na orla, na altura da Rainha Guilhermina. Não tem como não me achar. A boa música te guiará.

    Abraços!

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  7. Super Sônico:

    Admirou-me observar sua valentia ontem na calçada da Baden, pronto para enfrentar qualquer contratempo bem como não me surpreendeu o assédio da turma sobre sua bike. E aquele som rolando na tranquila noite de Copacabana foi muito agradável.
    Meu próximo domingo será 07 de agosto.
    Até lá e um grande abraço.

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  8. Caro Rogério,
    Retornando hoje de viagem, somente agora acessei o seu blog.
    Gratíssimo pela carinhosa referência ao meu nome.
    Em seu tríplice ofício de músico/jornalista e historiador, vc revolve um tempo colorido da historiografia musical capixaba.Abração,
    João Virgilio

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  9. Grande João Virgílio,
    Você é uma grande referência na história da música no Espírito Santo.
    Conferem minhas notas ?
    Um grande abraço

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  10. Sim, Rogério; suas notas reproduzem com grande fidelidade os fatos nelas descritos, eu diria, apaixonadamente. É bonito;provocam muitas saudades!
    Abração,
    João Virgilio

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