quinta-feira, 28 de julho de 2011

HISTÓRIA DA BOSSA NOVA EM VITÓRIA. Parte XI


A cidade crescia e com ela o interesse dos músicos locais em estudar, conhecer mais a teoria musical; afinal, Bossa Nova não era só violão e voz. A essa altura o samba jazz, a forma instrumental da Bossa Nova, estava mais atraente para os capixabas.

 Tínhamos poucos pianistas modernos, a não ser os tradicionais que vinham de uma escola dos anos 50. Jorginho Seadi foi pianista de primeira hora, ainda com seus 17 anos e formou, ao lado de Afonso Abreu, contrabaixista e Mário Ruy, baterista, o primeiro trio instrumental de Vitória nascido dentro do movimento e focado para um repertório fiel ao que se tocava no Rio e São Paulo e mesmo nos Estados Unidos. Desde então, Afonso Abreu nunca abandonou o estilo samba-jazz e por mais de 40 anos sempre armou e participou de conjuntos fiéis a esse modo musical: Mistura Fina, Magnum, Quarteto JB, Tropical Trio e recentemente o Afonso Abreu Trio. Porém buscava-se solos ao piano mais próximos ao estilo de um Tenório Jr, de um Luiz Eça, de um Cezar Camargo Mariano ou mesmo de Amilton Godoy, além de se prestar atenção ao que faziam Oscar Peterson e Bill Evans. 

Ficou entre nós por pouco tempo no início dos anos 60 um engenheiro pianista chamado Genaro, que prestava serviço à Vale do Rio Doce. Sua casa no Horto tinha um afinadíssimo piano meia calda, palco de noitadas sublimes, pois ele fora o pianista mais moderno que já estivera em Vitória. Lembro-me que sempre o aclamávamos como o nosso Tenório Jr, o nosso Bill Evans.Ele costumava dizer que macaquinhos estavam assanhados no sótão, que era  sua cabeça, ou seja, estava se concentrando. De repente se levantava e corria para o piano improvisar. Grande figura o Genaro.

 Pianistas mesmo só os tivemos a partir dos anos 90 e com muita categoria. Mas isso é outro assunto, para outra ocasião. Aliás ao Bossa Nova instrumental, que chamo de samba-jazz, foi o estilo que predominou logo após o boom dos cantores. Acho que a Bossa Nova teve seu marco com o lançamento do disco Chega de Saudade, com João Gilberto, em 1959. Vários pioneiros autênticos concordam com isso, entre eles Carlos Lyra., afinal Elizeth Cardoso nunca foi cantora de Bossa Nova. João Gilberto sim, virou o mundo da gente de cabeça pra baixo, modernizou o samba, criou um novo padrão técnico e estético. Estou desistindo de comemorar o jubileu em 2008. Por isso sempre defendi  que se comemorasse 50 anos da Bossa Nova em 2009. Essas sim são as corretas efemérides. Isso também é outro assunto.

Voltando ao piano e aos pianistas, esses sempre foram bem raros em nossa ilha, talvez porque as elites, os mais abastados, sempre preferiram congelar suas riquezas. Curioso é como no Espírito Santo são raríssimas as famílias que disponibilizaram o seu capital em favor da cultura, como sempre aconteceu em terras vizinhas, em Minas, no Rio, em São Paulo e no nordeste Por lá fundações de cunho cultural e educativo levando o nome das famílias sempre foi comum. Fato recente é a classe média que envia seus rebentos para estudarem fora mesmo com o considerável crescimento da nossa Escola de Música teve considerável crescimento.

 Jorginho Seadi foi um garoto de origem abastada, família libanesa bem sucedida em Vitória. João Virgílio Miguel era filho de mãe pianista e de família bem estruturada. Luis Carlos Castro, era filho de Ricardina Stamato, brilhante pianista paulista que veio residir em Vitória nos anos 30 e fundou uma escola.
Hélio Mendes era filho do mestre de banda de Alfredo Chaves.Era um autodidata, um excelente pianista.Essa história a gente conta depois. (continua).

5 comentários:

  1. Essa é uma crônica histórica que precisa ser preservada. Insisto que compile tudo num livro. Parabéns. Abraços, Elisa

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  2. Victor Humberto Salviato Biasuttisexta-feira, julho 29, 2011

    Elisa,
    Creio que não nos conhecemos... mas DE ACORDO como sua "insistência".
    Rogério deve produzir um volume.
    Abraço, Victor

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  3. Victor Humberto Salviato Biasuttisexta-feira, julho 29, 2011

    Elisa,
    ... DE ACORDO com sua "insistência".

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  4. Dizem que por volta dos anos 1940/1950 era difícil você passar por uma boa rua do Rio em que não se pudesse ouvir um piano... Tipo o Harlem dos anos 1930/1940. A coisa por ali era de tal monta que em diversos projetos arquitetônicos condomínios inteiros eram entregues com pianos instalados, mais ou menos como a febre das churrasqueiras ou, mais recentemente, das varandas gourmets.

    É isso: temos mais colesterol e menos música em nossos habitáculos.

    JL

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  5. Caro Mr. Lester,
    Com certeza as famílias cariocas, ou mesmo mi neiras e paulistas, estavam mais focadas na educação de suas proles do que especificamente a capixaba, sempre atenta a acumular riqueza e não investir no elemento humano, mesmo que fossem seus filhos.
    A partir da década de 70, com a "descida" dos descendentes dos alemães e italianos das serras capixabas para a capital é que surgem sinceros estudantes de música dispostos a desenvolver seus talentos, ou ficando na ilha, ou buscando o aprendizado fora do estado.
    Já fomos bem piores ! Hoje, já dispomos de bons pianistas, mesmo que o mercado não lhes seja favorável.
    Obrigado pelas suas considerações.
    Um abraço.

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