segunda-feira, 8 de agosto de 2011

HISTÓRIA DA BOSSA NOVA EM VITÓRIA. Parte XII


Naqueles anos da bossa tivemos um pianista com estilo próprio, romântico e rebuscado, Seu nome era Gilberto Garcia. Ele chegou a sair de Vitória por algum tempo, excursionou pela Europa e fez temporada no New Jirau, no Rio de Janeiro, incentivado por Sergio Ricardo. Sobre ele diz Marien Calixte:

Deixe-me falar então de Gilberto Garcia. Ele teve uma história delicada. Viveu um clima de reações muito sensíveis. Eu o conheci quando eu era discotecário da boate e ele morava no mesmo parque Moscoso e  já tocava. Ele já era considerado um pianista moderno, isso no final dos 50. Os outros pianistas eram o João Virgílio, Helio Mendes e Hélio Esteves e o Luis Carlos Castro. O Gilberto Garcia começou a tocar no Praia Tênis mas terminava a noite na boate do Vitória; depois a gente ia pra casa dele e ficava até às 4, 5 da manhã Lá iam o Humberto Musso, seu grande companheiro, Marinho Nogueira, Carlos Guilherme Lima, o Altemar Dutra e até a Maria Cibeli. Não era um clima exclusivamente Bossa Nova, mas em cima do disco da Elizeth. Ele se apresentava muito sozinho. Mas ele tinha um aspecto meio complicado no tratamento profissional. Não cumpria contrato, chegava atrasado, às vezes alegava estar doente, mas estava era bebendo, tudo isso conseqüência de uma relação amorosa complicada pois quando foi rompida essa relação, a partir dali, ele nunca mais se ergueu profissionalmente. Foi uma promessa. Era um pianista totalmente diferente dos outros em seu estilo. Chegou a ir para Europa, passou uma temporada lá tocando, em Portugal principalmente, voltou, mas não se cuidou. Morreu isolado, infeliz, criticando muito o mundo. E a outra pessoa, da relação dele, morreu em circunstâncias muito trágicas o que piorou ainda o estado de Gilberto, seu sofrimento.

E quando se fala de pianistas tem que se falar também de pianos. Um eterno problema em Vitória foi o instrumento piano. Os dos clubes tinham dificuldade em se manterem afinados. Tinha o piano do Praia Tênis, sempre fechado mas que a turma sempre dava um jeito de pegar a chave com algum diretor. E lá desfilavam os candidatos a pianistas. No Iate Clube a situação era mais grave ainda. Sendo um clube de tradição náutica e com varandas mais propícias a intermináveis noitadas a beira mar para fartos festivais de uísque com violão, o piano ficava meio deslocado nesse ambiente literalmente marítimo. Em 1964, Carmélia M.de Souza, Luiz Manoel Nalim e eu, resolvemos criar uma festa que enterrasse o carnaval. Assim surgiu o show Depois do Carnaval que teve imediata adesão de Afonso Abreu. Como coordenador de toda a parte musical chamou Jorginho Seadi, Mario Ruy e para cantar Virginia Klinger, Cristina Esteves e até o Negro Adotivo, figura folclórica da Praia Comprida que tinha uma voz rouca a la Louis Amstrong e dançava samba como ninguém. Aliás, o saudoso engenheiro Charles Brittan, era um parceiro constante com ele muitas vezes no Praia Tênis Clube. Oswaldo Oleari foi chamado para apresentar o show e o fez de forma inusitada: de costas para o público. Mas o assunto é piano e na próxima a gente continua.

9 comentários:

  1. Grande Coimbra,

    Conheci pessoalmente e ouvi falar de outros mas, Gilberto Garcia, não conhecia não.
    Triste essa história de músicos talentosos acabarem sozinhos.
    Há registro dele, CDs, etc ?
    Entrei no Google e não achei nada.
    Um grande abraço

    Ernani Salles

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  2. Meu caro Ernani,

    Há sim um CD gravado por ele, além de fitas domésticas.
    Estou fora de Vitória, mas quando lá estiver posso postar uma faixa dele. Boa idéia.
    Gilberto Garcia, o GG, foi um desmedido romântico.
    Obrigado pela visita.

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  3. Querido Rogério,
    Saboreio suas histórias e comentários sobre essa época especial. Prometa que vai juntá-las num livro. Bjos, Elisa

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  4. Minha cara Elisa,

    Seu desejo é uma ordem. Vamos fazer uma "vaquinha" (rsrsrs)
    Obrigado pelo incentivo.

    Um abração.

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  5. Victor Humberto Salviato Biasuttiterça-feira, agosto 09, 2011

    Olá Rogério,
    Sempre um espetáculo esse seu seriado.
    Só demora a vir o próximo! Você administra bem essa programação, de forma a nos deixar, leitores, ansiosos.
    Bom demais saber das histórias, ainda mais com atores quase sempre conhecidos.
    Participarei da "vaquinha".
    Abraço, Victor

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  6. Incansável Victor:

    O seriado é devido eu estar meio "atrapalhado" com as postagens.
    Mas, está chegando ao fim.
    Depois, do último capítulo, vem o tal II, O Segundo, A Continuação..
    E, aí, você começa a aparecer. Um novo tempo. Novos talentos, outros estilos.
    Aguarde.
    Obrigado pela sua visita.
    Um abração.

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  7. Rogerio, conheci o Gilberto Garcia, um dos pianistas mais atuantes daqui de Vitória, inclusive, me acompanhou algumas vezes no Teatro Carlos Gomes. O GG era muito talentoso, muito gente boa e a gente sente falta dele aqui.

    Um abraço,
    Ester Mazzi

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  8. Musa,

    GG acompanhou Aprígio naquele show "Carmélia Com Amor" e que Amylton de Almeida chamava "Carmélia Com Arroz", com Milson Henriques e Maria Ângela Pellerano. Ative minha memória.

    Bom ter você nas Alturas.
    Abraços.

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  9. Rogerio, quem falava "Carmelia com arroz" era o Arlindinho Castro.
    Lembrei de um dos shows que o Gilberto Garcia me acompanhou, no qual cantamos eu e Apriginho Lyrio, a música "Estrada do Sol" e foi o Show "Ponto de Encontro", no Teatro Carlos Gomes, na década de '70.

    Um Abraço,

    Ester Mazzi

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