quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Edgar Gianullo.



Edgar Gianullo, talvez por viver em São Paulo e ter escolhido a publicidade como atividade profissional, permitiu que seu talento musical não se fixasse na memória de nós pobres nordestinos. Por isso não seja- Música Nas Alturas registra esse talento. Para ilustrar reproduzimos texto de Toquinho, um dos nossos mais competentes violonistas, sobre sua admiração por Edgar Gianullo enquanto aprendiz.
“Próximo à vitrola, passava manhãs inteiras na intimidade com o violão, debruçado nas gravações de Baden Powell, afundando-se nos discos, como se fosse possível visualizar a agilidade das mãos do grande violonista. Instigava-lhe a vibração flamenca de Baden, e procurava deduzir e aplicar no próprio violão os movimentos dos dedos, o jeito de puxar as cordas no rastro de um som cada vez mais puro.

Não se contentava com o que já sabia, queria aprender muito mais. Paulinho Nogueira o introduzira no universo do violão que compreende a descoberta da passagem do acompanhamento para o solo. Como fazer do acompanhamento um solo. “De repente virei um solista de violão, e só”, explica Toquinho. “Faltava-me versatilidade para outras coisas”.
Nos bailes de formatura animados pela orquestra Simonetti, ao invés de dançar, ficava o tempo todo próximo da orquestra observando Edgar Gianullo “estraçalhar” a guitarra: “Eu ficava abismado em ver como ele harmonizava. Era daquilo que eu precisava. Queria aprender todas aquelas inversões de acordes que só ele sabia fazer”.

De sua posição no palco, Edgard estranhava aquele garotão lá embaixo, na pista de dança, sem dançar, parado em sua frente, olhos grudados em tudo o que ele fazia. Nos intervalos, Toquinho tentava conversar: “Inversões incríveis essas que você faz...”. O músico desconversava, afinal, quem era o doido falando em acorde naquela hora? Toquinho não desistia, no baile seguinte, lá estava de novo sugando as harmonias do Edgard. Até que um dia, tentou: “Você não quer me dar algumas aulas?” A resposta veio direta: “O quê? Não, não dou aulas, não gosto de dar aulas!”. Depois de muita insistência, Edgard concordou. Toquinho lembra a primeira vez que esteve na casa do músico:

– Cheguei lá, e ele me pediu para tocar alguma coisa. Nunca me esqueço, comecei a tocar “Consolação”, de Baden e Vinicius. Então, a mulher dele saiu da cozinha e veio para a sala, e ele falou para ela: “Você nunca parou pra me ouvir tocar, e agora corre aqui pra ouvir esse cara que está tomando aula comigo!”. Então, eu disse a ele: “Vim aqui aprender aquilo que você sabe melhor do que todos: harmonizar com tantas inversões diferentes .(Toquinho).


Fiquem com duas faixas: Balanço Zona Sul e Incerteza.






Um comentário:

  1. Grande Rogério:
    Esse foi trouxe lá do fundo; bem como você menciona, São Paulo é outro país.
    O cara é craque mesmo.
    Um abração,
    Ernani Salles

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