segunda-feira, 1 de agosto de 2011

FRANK SINATRA, A ÚLTIMA VOZ.

Resenha publicada no suplemento cultural "Pensar" do jornal A Gazeta, ES, em 02/07/2011.

Em plena segunda década do século XXI fica um pouco difícil imaginar o surgimento de cantores viris num cenário pop, onde a figura de Frank Sinatra sobressaía em qualquer contexto. Esse tempo já passou e o papel realçado de vocalista certamente ficou a cargo das mulheres. A voz masculina encaixa-se mais num conceito de grupo, enquanto a feminina consegue ser relevante no mundo pop de hoje. 

O lançamento do DVD “Frank Sinatra, A Man And His Music”, reunindo três shows produzidos para a TV americana nos anos 60, é mais que oportuno: os que pertencem a gerações anteriores poderão ter o prazer de relembrá-lo, e os mais jovens (dotados de curiosidade) poderão travar conhecimento com Sinatra. Há participações memoráveis, como as de Ella Fitzgerald e, um pouco mais discreta, de sua filha Nancy Sinatra, além da nobre e oportuna presença de Tom Jobim, alavancando de uma vez por todas no exterior a Bossa Nova, que propiciou a real consagração da música brasileira.
Frank Sinatra (1915-1998) foi a última voz. Tony Bennett (1926) ainda canta, Cauby Peixoto (1931) ainda canta, Andy Williams (1927) não deixa de cantar, e mesmo Stevie Wonder (1950), Andrea Bocelli (1958), Emilio Santiago (1946), são daqueles cantores românticos que ainda resistem ao tempo e aos ventos. Frank Sinatra foi o mais emblemático, o mais representativo, e não à toa conhecido como The Voice.
Dentro da postura desses cantores à moda antiga, a performance de Sinatra nesse DVD provoca um verdadeiro concerto camerístico no puro ritmo do swing, e também da binária bossa nova, pois o cantor tem por trás de si um poderoso arsenal instrumental, com arranjos elaboradíssimos, alinhavados pelos mestres Nelson Riddle e Gordon Jenkins. Não é para qualquer um não, absolutamente. É técnica, domínio, virtuosismo, pura verve.

O repertório é expressivo, uma antologia dos mais importantes compositores do século XX: Cole Porter, George Gershwin, Sammy Cahn, Richard Rodgers, Irving Berlin, Stephen Sondheim, entre tantos, e mais Antônio Carlos Jobim, destacando-se as canções “I´ve Got You Under My Skin”, “Come Fly With Me”, “Witchcraft”, “But Beatiful”, “Just One Of Those Things”, “Angel Eyes”, “Body and Soul”, “How High The Moon”, “Corcovado”, “Garota de Ipanema”, “Insensatez” e, curiosamente, “Love Is A Many-Splendored Thing” e “Mona Lisa”. Essas duas últimas foram à época submetidas a Sinatra para que as lançasse e, tendo-as recusado, tornaram-se então dois dos maiores sucessos de Nat King Cole. Para o especialista em Sinatra, o médico Nelson Bittencourt, a performance de Jobim e Sinatra em “Change Partners” é um dos momentos mais sublimes e perfeitos da carreira de The Man.

Esse período entre 1962 e 1967 é considerado o auge da carreira de um super pop-star que sempre esteve no topo dos mais vendidos, atuou em inúmeros filmes, ganhou um Oscar, tornou-se empresário bem-sucedido com o selo Reprise e contribuiu para que a música brasileira se espalhasse pelo mundo. Tom Jobim foi o único compositor do mundo que teve dois discos gravados por Sinatra com composições exclusivamente suas. Só nos resta agradecer a The Voice e, por que não, ter o imenso prazer de assistir ao delicioso DVD “A Man And His Music” e entender que ele foi, de fato, a última voz.


5 comentários:

  1. Olá Roger!!!!!

    Rolava lá em casa o Frank Sinatra, nem tanto, não lembro.
    Vi no Ytube Tom Jobim com a figura. Sonzinho legal.
    Saudades.

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  2. Minha Santa,
    Há quanto tempo...
    Pois é, Sinatra é da primeira metade do século passado, sem gozação.
    Ele foi um dos maiores cantores de sua época e um dos mais afortunados artistas do mundo pop/jazz/swing.
    Velhos tempos.
    Não desapareça.
    Um grande abraço.

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  3. Prezado COIMBRA:

    Excelente recomdação, que a todos remete para o universo da "VOZ".
    Longe das questões pessoais, SINATRA foi toda uma história do canto, do encanto, do swing, do fraseado perfeitamente articulado.
    Excelente a lembrança do grande EMÍLIO SANTIAGO.

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  4. Em tempo

    Prezado COIMBRA:

    Onde se lê "anônimo", leia-se "apóstolo".
    Parabéns pela postagem.

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  5. Caro Apóstolo Anônimo,
    Prazer recebe=lo aqui.
    Concordo com tudo que menciona sobre o Sinatra.
    Aprendi um pouco de inglês com sua pura pronúncia.

    Esqueci, omiti, mas agora resgato o nome de Mirzo Barroso, dono de uma das mais cativantes vozes que tivemos no Brasil.

    Saudades do tempo de MIRZO BARROSO.
    Um grande abraço!

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