segunda-feira, 30 de maio de 2011

HISTÓRIA DA BOSSA NOVA EM VITÓRIA. PARTE VIII.





A Bossa Nova ia de vento em popa no seu barquinho e, na Praia do Canto em Vitória aconteceram então as festas do Praia Tênis Clube, as famosas “Festas do Galo”. Era sempre no dia 25 de dezembro.O músico Afonso Abreu descreve bem aquele tempo em seu texto no livro “Escritos de Vitória-Música”.

No mínimo fui chofer de Carmélia de Souza. Tocava em seus shows na Praia Tênis Clube e Iate Clube. Fazia ao lado de Cláudio Tovar (depois conhecido no grupo Dzi Croquettes) e Rogério Coimbra toda a produção que, naquela época era chamada de “providências de show”. Claudinho era uma espécie de Diretor Artístico e Coreógrafo, além de decorador de salão. Rogério Coimbra fazia uma assistência de direção geral de Carmélia e traçava o roteiro opinando no programa musical. Minha função principal de baixista se misturava à de eletricista, continuísta, ajudante de copo e, como disse, motorista. No trio , eu tocava com Mário Ruy na bateria e ao piano se revezavam Jorginho Seadi e Gilberto Garcia, acompanhando as cantoras lançadas por Carmélia, que eram Virginia Klinger e Cristina Esteves. Carmélia sempre contou com o apoio irrestrito de Nogueirinha, eterno presidente do PTC, que tinha como diretor social o maior incentivador e responsável que era o Guilherme Rodi Soares.

Nogueirinha, eterno presidente do PTC, era deficiente, com um corpo pequeno, as mãos paralisadas, e sempre conduzido numa cadeira de rodas. Falava com certa dificuldade, mas era compreendido e não saía do clube, sua paixão.Era tio de Nenel Miranda, ex-vereador de Vitória. Nogueirinha era pessoa querida de todas as gerações. Numa “Festa do Galo” Vânia Sarlo teve a idéia de usar a cadeira de rodas dele e realmente aconteceu: ela entrou em cena, sentada na cadeira, empurrada por Marinho Nogueira, cantando com a turma a música “Pernas,” de Sérgio Ricardo (Surgiu ao sol da tardinha/ um par de pernas lindas/ levando a dona delas, o meu olhar atrás...) Foi um sucesso com delírio da plateia Mas um fato ocorrera antes que os deixou constrangidos e que logo passaram por cima. Ao buscar a cadeira de Nogueirinha na casa dele, colocaram-na no carro, não sem antes tirar o seu ocupante e colocá-lo em cima do muro da casa. Foram embora e esqueceram o Nogueirnha sozinho, sentado no muro e por lá pacientemente ficou até alguém ir lá resgatá-lo. Reinaldo Brotto, um dos cantantes dessa festa, comenta o show do galo:

A festa do galo surgiu por aqueles que frequentavam também o bar Bob´s, e o Ignácio Pessoa, e o Gilson Wanderley eram muito amigos de Vânia Sarlo que eram diretores do Praia Tênis Clube. Vânia teve então a idéia de se fazer uma festa no dia 25 de dezembro, com a turma cantando algo diferente. Éramos eu, Evanilo Silva e Luiz Paulo Dessaune, além de uma turma reserva como o Guilherme Punhal, José Mário Tirone, Cacá Nogueira.O Moacir Barros tocava e cantava, era o nosso Dick Farney. A base era o Hélio Mendes, com Betinho na bateria, Cícero Ferreira, no piston. Eu escrevia os roteiros e Evanilo e Luiz Paulo os arranjos e tinham vários colaboradores como Penhoca Linhares, Nilza Leal, Nilze Coimbra, Paulinho e Marcelo Cavalcanti. Tinha também os garotos Afonso Abreu, Rogério Coimbra e uma porção deles. Cantávamos músicas modernas algumas de Cariê, que não cantava em público por ser reservado devido à sua posição ligada ao pai, que era Governador do Estado. Foram anos de muito sucesso.

Nessa viagem no tempo descobri a seguinte nota na minha coluna “O Assunto É Música”, no suplemento dominical de A Gazeta, edição de 31 de dezembro de 1965:

O show que funcionou na Noite do Galo, no PTC, se apresentou ontem na cidade de Governador Valadares. É um show bem interessante e que agradou bastante aos que o assistiram. Participaram: Jorginho e Quarteto (substituído ontem pelo pianista Antônio Fernando) Cristina Esteves, Rachel Lopes, Virginia Klinger, Vânia Sarlo, e Claudinho Tovar com Carmélia M. de Souza, como colaboradores.

Vânia Sarlo era uma figura ímpar. Era não, ainda é. Depois da efervescência da Bossa Nova, anos depois, tornou-se uma das porta-bandeiras mais admiradas das escolas de samba de Vitória. Seu entusiasmo era sempre um aditivo para qualquer programa que surgisse, levando o seu incrível humor. Depois das amizades construídas aqui, principalmente com Silvinha Telles e Luiz Carlos Vinhas, morou a partir de 1964 por 15 anos no Rio de Janeiro e então estabeleceu uma ponte Vitória-Rio trazendo muita gente para passear por aqui. Casou com um produtor da TV Rio, Carlos Alberto Tuna, depois de quase ter casado com Alberto Land,o famoso compositor de Helena, Helena, cantada por Taiguara. Pensavam até que ela fosse a Helena. E aí sempre retrucava:

 E lá tenho eu cara de puta?
O pessoal quando veio para cá criou muita amizade.com a gente. O Menescal foi quem construiu isso naquela época. Depois foi a vez do Cariê. Quando Maysa veio com Bôscoli foi uma época boa. Bôscoli passava lá em casa quase todo dia. Andava-se com liberdade pelas ruas da Praia do Canto. As portas de nossas casas estavam sempre abertas e os muros sempre foram baixinhos. Tinha os Jogos Praianos, do Praia Clube, e cada time era nominado por uma cor: preta, vermelha, branca. Menescal chegou a jogar. A gente não saía da Praia Clube Era um paraíso. O roteiro da música começava no Praia Clube, depois ia para minha casa, depois a de Noêmia Batalha, tia de Menescal,  pulando pra a casa de Nilze Coimbra e acabava no Iate Clube. Todo dia de manhã a gente estava na piscina do Praia Clube, com Maysa, Bôscoli, e a turma toda. Certa vez no Rio num restaurante o Bôscoli estava com Elis Regina numa mesa, ele se levantou e veio de longe falar comigo: a baixinha quase explodiu de ciúmes. Éramos amigos. Tinha o Geraldo Vandré que por coincidência era primo da minha tia casada com o irmão do meu pai. Entendeu? (risos) Além da integração pelo lado artístico tinha a coisa de alma mesmo. O talento deles se unia. Era um grupo de pessoas que amava fazer música, não tinha essa coisa de dinheiro. Acho que eles pagavam pra tocar. Ficaram aqui mais de três meses - eram eles que bancavam, né? Havia uma identidade total com Vitória, pelo clima, pelas pessoas, era uma grande família. A bossa nova fez muito bem ao pessoal de Vitória, fez um enorme bem ao músico brasileiro no exterior e à própria música brasileira. Não havia droga, não havia mentira, não havia maldade. Nós éramos puros, fazíamos tudo com verdade, a gente sorria com verdade, a gente beijava com verdade. As pessoas eram boas por dentro. A Bossa Nova purificou o nosso tempo. (CONTINUA)

segunda-feira, 23 de maio de 2011

SARAH VAUGHAN EM VITÓRIA.





SARAH VAUGHAN EM VITÓRIA.

Os grandes espetáculos internacionais em Vitória aconteceram nos anos 1977/78/79 quando a antiga Fundação Cultural estava sob o comando de Marien Calixte No meio campo Sônia Cabral, Afonso Abreu e eu nos desdobrávamos em produzir nomes como o de Astor Piazzolla, Art Blakey, Passport, Dave Brubeck, John York, entre tantos. Cada evento tem sua história que nós quatro bem podemos contar. Hoje vale lembrar de Sarah Vaughn, The Divine One.


Sassy desembarcou em Vitória numa sexta de primavera com uma enorme cabeleira. Cabelos armados eram moda. Sua troupe era o pianista Carl Schroeder, o baixista Walter Booker e o baterista Jimmy Cobb. Alojados no Hotel Senac, veio o alvoroço pois tínhamos um dia curto para os preparativos. Sônia Cabral e Marien Calixte encarregaram-se de ciceronear a estrela. O point era o restaurante do Ferrinho. Schroeder sumiu, assim como Mr. Cobb. Walter Booker não largou do meu pé. As atenções estavam focadas no show de domingo no Carlos Gomes, dia 23 de outubro de 1977.


Como sempre acontece num domingo em Vitória, a cidade assusta, ainda mais à noite, quando só circulam fantasmas. Fiquei no camarim do terceiro andar do teatro com Mrs Vaughn. Eu e a musa, a sós, luzes apagadas, pois as da rua eram suficientes. Walter Booker passou rápido com a missão de passar-lhe uma poderosa cigarrilha cuja fumaça expelida deixava-nos lerdos e feridos pelo insuportável silêncio da cidade. Ela ficou fixa diante do toucador resmungando, ou cantarolando. Nunca esqueci da frase que ela soltou: “o que a gente não tem que fazer para ganhar a vida...” Tradução instantânea e imediata melancolia ao deslumbrar as ruas desertas. Fomos despertados pelo segundo sinal: hora do show. Foi uma noite burocrática, profissional, com o insuportável calor do teatro. Mrs Vaughn enxugava as axilas com lenços de papel e os atirava sobre a plateia, num evidente protesto profissional. Mas o melhor estava por vir.


Foi marcado um jantar na casa de Sônia Cabral, um daqueles sempre lautos jantares que aconteciam após os espetáculos. Houve resistência por parte do grupo, mas, diante de insistência minha e de Arlindo Castro, embarcamos no meu fusquinha. Eu dirigindo, Sassy ao meu lado e, no banco atrás, aquela montanha de carne: Walter Brooker e Jimmy Cobb esmagando Arlindinho. Mr Booker providenciou outra cigarrilha mágica. Com os vidros cerrados, para não poluir a cidade, ficamos a passear pela Praia do Canto e Camburi, num tempo que parecia não terminar. De repente Mrs Vaughn sentenciou: “ I´m hungry, let´s eat.”
Lembrei que em Vitória não tinha nada aberto àquela hora. Ponderei sobre o jantar e que seria simpático comparecermos; o ambiente seria agradável, sem tietagem e tudo mais que a convencesse a ir. A larica falou mais alto. “Let´s go”.

 Estacionei o fusca e quando estávamos na rua observei que saía a fumaça mágica da cabeleira armada de Mrs Vaughn. Começamos a rir e não conseguíamos parar. Pisamos a varanda da casa de Sônia e Marílio Cabral e retornamos diante de tanta gente aguardando a estrela da noite. Enfim entramos em fila indiana circundando a longa mesa com aquele irresistível banquete cuja peça principal era um sedutor bacalhau. Demos pelo menos umas três voltas pela mesa, rindo, simplesmente rindo. Os convivas não entenderam muito mas, como já estavam há algum tempo esperando, tiveram no scotch um poderoso aliado para morrerem de rir também, afinal, estávamos todos lá, reunidos, felizes com o acontecimento, Marien Calixte muito mais.


Apresentações feitas, protocolos cumpridos, tornamo-nos um grupo social. Ainda sinto o sabor daquele bacalhau, preparado pela mãe da anfitriã. Cada um foi criando seu grupinho e eu colei em Jimmy Cobb para ouvir as histórias de Miles Davis e John Coltrane. Ele portava no bolso de sua camisa um pente que a cada minuto tirava e passava no cabelo. E contava histórias como se estivesse executando um longo solo de bateria. Schroeder não apareceu no jantar.


Foi uma noite fantástica. Plena madrugada, todos soltos, lânguidos; na sala um piano meia cauda no qual o saudoso Manolo Cabral exercitava seu talento. Pela luz de um abajur a silhueta de Marílio Cabral dedilhando um contrabaixo. Mrs Vaughn, com um copo na mão, aproxima-se do piano, senta-se e começa a tocar. Muitos cochilavam mas os atentos se aproximaram.


A madrugada estendeu-se e na manhã seguinte as estrelas voltavam para o céu. Ninguém sabe ao certo se Schroeder foi também. Mr. Cobb hoje está com 82 anos e em plena atividade, assim como Schroeder. Mr Booker faleceu em 2006 e Mrs Vaughn em 1990


Texto originalmente publicado no Caderno Pensar do jornal A Gazeta (ES) em 09 de abril de 2011.

sábado, 21 de maio de 2011

A VITÓRIA DOS CAPIXABAS.


 Bruno Mangueira, longe da ilha, curte em New York City uma pegada com Filó Machado.






Victor Biassutti e Roger Bezerra, em plena ilha, pensando no mundo.






O italiano-capixaba Turi Buona Gente convida para seu show, no centro da ilha, em Jucutuquara.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

A HISTÓRI DA BOSSA NOVA EM VITÓRIA. Parte VII.



Bossa Nova. A quem ela não tinha atingido ainda? As rádios tocavam os discos de bossa e de samba jazz o dia inteiro. Oswaldo Oleari foi o primeiro a rodar o famoso 78rpm de João Gilberto, trazido do Rio pelo também radialista Eleisson de Almeida. Eleisson, amigo de Lúcio Alves, foi alertado pelo cantor em 1958 para a nova maneira de se cantar, um jeito bossa nova, como no LP “Lúcio Alves, sua Voz Íntima, Interpretando Sambas em 3D”.Vitória não resistiu à bossa nova. Eleisson lembra que a nova forma de apresentação, banquinho, voz, violão e ritmo, facilitou em muito as contratações para shows, difundindo melhor o novo estilo. Os clubes contratavam músicos semanalmente, devido aos baixos custos. Marien Calixte era discotecário da boate do Clube Vitória onde começou a rodar os primeiros discos dessa nova onda. Eis seu depoimento:

A expressão Bossa Nova eu a ouvi de Paulo Monteiro, que era o presidente do Clube Vitória...ele fez até menção a João Gilberto, um baiano que cantava igual a mulher.Toquei na boate bem como no meu programa que tinha na rádio Espírito Santo, "Música, Viva a Música", isso em 59. A reação foi muito estranha, mais especificamente em relação a João Gilberto. Achavam muito leve, afeminado. Eu mesmo fui me adaptando aos poucos. Paulo Monteiro tinha uma cabeça boa, viajava muito e estimulou que eu rodasse os discos na boate e foi pegando aos poucos, como  o” Chega de Saudade”. Aí, o Eleisson de Almeida e o Oswaldo Oleari que tinham programas na rádio Capixaba, o “Boa Tarde Minha Ouvinte” e o Oswaldo o “Clube da Boa Música”, rodavam também e então nós três fechávamos o cerco, éramos somente nós a divulgar a tal da Bossa Nova. Que eu saiba, João Virgílio foi o primeiro músico em Vitória que abraçou a Bossa Nova.

Eu digo o que o clube Vitória foi muito responsável pela divulgação da bossa nova por aqui pois o clube contratava muitos shows, que eram caros,além da boate rodar muitos discos. O clube tinha uma diretoria com cacife, o próprio Paulo Monteiro, Bubu Rabelo, Graciano Espíndula, Hélio Oliveira Santos, Aécio Bumachar, Carlito Menezes, que chegou a estar casado com Dóris Monteiro. O clube nunca teve problema de dinheiro.

A música brasileira até os anos 50 era uma música cheia de tragédia, altamente romântica e aí surgiu um grupo de músicos espontaneamente, sem programar, e aos poucos foram ligando, juntando suas idéias, o que era diferente. Não havia uma intenção, um objetivo de se fazer uma música nova no Brasil. Nasceu espontaneamente. As influências foram a erudita, Debussy e, Chopin e ViIlla Lobos, para Jobim, também a música americana, Chet Baker, que nunca ouviu bossa nova e João Gilberto que nunca ouviu Chet Baker. As coisas aconteceram.

Eu acho que a Bossa Nova é a música brasileira sem drama e com ironia. Ela traduziu o moderno e sobreviveu por isso. Tenho uma indagação histórica, uma teoriazinha. A Bossa Nova  nasceu primeiro ou depois do cool jazz ?


Para Eleisson de Almeida, a Bossa Nova forçou o aprimoramento do músico brasileiro e tirou a música da inércia. Ele vibra quando afirma que, se fosse vivo e ainda estivesse escrevendo, Scott Fitzgerald, teria como fundo musical de seus romances a bossa nova. Ele comenta:

A Bossa Nova por aqui foi logo aceita. E como novidade sempre tinha para ela uma pitada de troça, principalmente quanto ao espanto de alguém cantando tão diferente fazer tanto sucesso. Mas lá trás, Mário Reis cantava também diferente. Vitória adorava a Bossa Nova. A pouca resistência que houve por aqui foi pelo fato da novidade - só que essa novidade chegou com a força do jovem. A assimilação foi tão imediata que até parece que a bossa nova tinha sido feita no Espírito Santo. Vitória adotou a Bossa Nova como se fosse um produto da terra. Eu era jornalista, radialista e sabia medir essa reação positiva. (continua).

segunda-feira, 9 de maio de 2011

BLOGS & BLAGUES.



Esse tal de blog é coisa séria, um negócio bem bolado.

O primeiro o qual  me habituei a abrir foi o http://www.contraovento.com.br/ ,de Acir Vidal, jornalista carioca que escolheu Vitória como seu refúgio.
 As críticas de Luiz Romero, o Salsa, animaram-me a publicar comentários e até brinde ganhei, uma edição de CD especial, do selo Lombo da Mula. Antes eu já publicava textos no site “Taru”, de Nena B, http://www.taru.art.br/, página criada em 1996 e que esteve um tempo desativada, mas que agora volta mais criativa e tenho a honra de compor seu corpo editorial.


Salsa passou a então fazer dobradinha com John Lester que acabara de criar o Jazzseen. Incrível como hoje o blog de Mr.Lester está encorpado e com uma fantástica disponibilidade de informações. Através do “Contravento” conheci o CLUB Jazz & Bossa que reúne os medalhões da crítica do Brasil, um pessoal com uma extraordinária vivência e manancial de informações que generosamente repassa para nós, simples mortais. Uma verdadeira Academia. Lá está o Pedro Cardoso que frequentou a Thomas Jefferson da Avenida Atlântica de Copacabana, RJ. O próximo passo foi JAZZ-O Assunto É Jazz, do decano Lulla. A essa altura Salsa já era dissidente e criou seu “Jazz Backyard” que virou “Jazzigo. O Clube de jazz, do meu amigo Wilson Garzon, passou a ser uma referência em termos noticiosos e de agenda de shows. Enriqueceu-me também navegar no BLOG JAZZ + BOSSA + BARATOS OUTROS, de Érico Cordeiro com links instigantes. Aliás, ele foi o primeiro seguidor que tive.


Minha primeira participação num blog, não contando a experiencia do “Taru” foi no “Blog da Ava”, da cantora Ava Araujo, que infelizmente acabou. Passou-se o tempo e com ele um comichão de escrever; fazia-o através de missivas eletrônicas e com uma abordagem muito pessoal. Queria voltar a publicar crônicas e críticas como sempre o fiz na mídia impressa, jornais, revistas e coletâneas ao longo de quase 50 anos. Mas como a fila anda, os espaços foram-se fechando e a coisa começou a pingar. Passei a insinuar-me diante blogueiros e saiteiros, mas sem resultados. Meu grande incentivador e professor foi John Lester. O início foi quando escrevi a crônica “Finos Fantasmas numa Ilha Fantasma “ e a enviei ao incansável Victor Biasutti, que por ser super organizado em divulgar seus shows e possuir uma poderosa mala de endereços, fez com que fosse lida por muita gente e Oswaldo Oleari a incorporou no seu Blogui Don Oleari, passando eu a ser seu colaborador. Depois veio o convite de Andréa Ramos e também passei a colaborar no Cadernosete. Mas eu queria o meu espaço. Bom frisar, é tudo grátis.


Um dia, após meu almoço & siesta de aposentado dei um pulo de meu catre e resolvi por mim mesmo criar um blog. Fiquei 4 horas diante do computador e por próprios méritos criei o Música Nas Alturas. Suei, sofri, como ainda sofro e suo, mas meu objetivo estava alcançado: criar um banco de dados de antigos escritos então publicados e desembaraçar-me dos pensamentos diários através da escrita. Agora posso acordar e brincar de escrever, melhor, brincar de postar, e, assim, evitar a degenerescência de meus neurônios encharcados de venenos do cotidiano. Mereço uma sobrevida.


Quanto aos blogs, são como amigos, não se junta muito; a gente tem a nossa preferência e fica quieto. Blog é coisa pra se guardar, debaixo de sete chaves, dentro do coração, assim falava a canção, de Milton, portanto, não exagerem nos blogs, escolham os seus.




Atenção: Depois de   encher o saco de “amigos”  implorando dicas de como trabalhar  com blogs, recebi o vídeo  de "amigos da onça", o qual recomendo aos mais ilustres internautas  assistirem.


quarta-feira, 4 de maio de 2011

A IDEOLOGIA DO JAZZ.



Há pouco, num exíguo espaço onde se ouvia música, junto a um montão de gente, conversava-se sobre jazz. Sou de uma geração que conheceu jazz sob restritas condições, fosse por parcas discotecas, fosse por falta de informações, fosse por rara companhia, fosse pelo reduzido tempo para saborear aquele novo som. Claro que não havia internet. Havia sim gigantescas radiolas que nos proporcionavam a alegria de conhecer a dimensão de uma nova música através da reprodução de contados LPs ou pela difusão de um programa de rádio chamado “Jazz Time”, ou “Jazz Hours”, na estação Voz da América, transmitido por Willis Conover diariamente às 22 h 15m (20 h15m em Washington, DC).


Em 25/10/1963, publiquei em minha coluna “O Assunto É Música”, em A Gazeta, ES, um convite para os leitores acompanhassem o programa de Conover. O entusiasmo era tão grande que tornava o mundo pequeno e, com intimidade, conclamava meus leitores (quantos seriam?) a se deliciarem com o jazz apresentado. E tínhamos que regular o dial pois a transmissão era em ondas curtas e o chiado não era raro. Num desses programas descobri Bill Evans, solando “Stella By Starlight” com o quinteto de Miles Davis. Foi amor à primeira vista, melhor, à primeira audição. O programa de Willis Conover ficou no ar por quase 40 anos e teve uma audiência fabulosa no Leste Europeu em plena Guerra Fria. Inesquecível era a abertura do programa: “Take The A Train”, com Duke Elligton. No Youtube há resgates dessa abertura.



O jazz adquiria então uma postura ideológica, como não? Atravessa a cortina de ferro e leva a elegância e  liberdade do jazz. Durante a década de 60 o Departamento de Estado dos EUA promoveu a excursão pela Europa e África e Ásia dos “Real Jazz Ambassadors”, destacando-se os grupos de Dave Brubeck e de Louis Amstrong. Há a célebre gravação pela RCA do disco “Benny Goodman In Moscow, 1962”, registrando a estrondosa apresentação de Goodman na cidade coração da antiga URSS. Jazz com ideologia.

O jazz sofreu seus revezes nos anos 70 e se acondicionou num formato ora chamado de “jazz-rock”, ora de “fusion” ora "acid jazz”, enfim, uma variedade de rótulos que se apoiavam na tradicional estrutura de fazer jazz, ou seja, expor um tema e improvisá-lo livremente, a essa altura não importando o andamento ou ritmo. Bom frisar que nos anos 60 o jazz adquiriu uma das suas mais ousadas formas através do chamado “avant-gard” ou “free jazz”, tendo a frente nomes como os de John Coltrane, Eric Dolphy, Cecil Taylor, Andrew Hill, entre tantos.

Lá se vão 50 anos, meio século, que é mais contundente, e o jazz continua solto e bem vivo. Voltando ao início da conversa sobre jazz, num exíguo espaço, concluímos sobre a existência do jazz de direita, do jazz de cento e do jazz de esquerda. Quanto ao jazz de direita lembrei-me logo de alguns consócios do Clube das Terças que se reúnem semanalmente em Vitória, ES. Nele a maioria é de direita. Talvez eu e Mr. Lester sejamos simpatizantes do jazz de esquerda. Não que rejeitemos os méritos do jazz de direita, o conservador, pelo contrário. Respiramos a pura brisa da democracia. O jazz de centro, ou em cima do muro, é que talvez não tenha muita aceitação, só uma vez ou outra, só para refrescar, como preferem alguns consócios.

Nestes tempos de interatividade e ideologias rarefeitas, com o rádio em outro plano, o jazz assume um papel de vanguarda. Hoje podemos desfrutar da internet e, especificamente o jazz, nos proporciona um entretenimento inédito. Há um clube em Nova Iorque que transmite on-line sua programação. Para os frequentadores da cidade o endereço é  183 W. 10th St. Se lá forem e não tiverem tempo de irem ao clube, acessem a internet no hotel. Para nós, aqui embaixo da linha tropical ,também basta clicar e curtir. Os shows são entre 19h30m e 03:30m, horário de Nova Iorque.




Em tempo: trata-se de jazz de esquerda. Divirtam-se.



segunda-feira, 2 de maio de 2011

NANA CAYMMI.


NANA CAYMMI.

Nana é a voz do coração. Ouvi Nana pela primeira vez no disco “Caymmi Visita Tom”, uma relíquia produzida por Aloisio de Oliveira pela Elenco em 1964. Ela fez 70 anos semana passada e ganhou um documentário dirigido pelo franco-suiço Gerorges Gachot, “Rio Sonata: Nana Caymmi”.

O documentário peca pela precária montagem e uma seleção de imagens do Rio um pouco duvidosa, mas é extremamente competente nas cenas em que Nana Caymmi é o alvo, resultando numa excelente reportagem cinematográfica. Um pouco da intimidade de Nana é revelada, seja pessoal ou de bastidores, e sua presença na telenona, cantando, honra seus admiradores e da família Caymmi de quebra, principalmente o Dori.

Ela conta que seu pai só compunha de cabeça e, quando sua mãe notava que ele ficava com cara de “bestalhado”, mandava todos os filhos se afastarem e fazerem silêncio absoluto na casa. Há cenas do velho Dorival reunido em família. Nana não esconde que potencializa sua emoção quando grava ou se apresenta ao vivo, deixando baixar uma tristeza ou uma enorme alegria.Há uma cena em que ela joga cartas com amigos tendo ao fundo uma gravação sua e ela exclama: “ Adoro me ouvir cantar”. Ela se considera ligada à Bossa Nova, apesar de não se achar cantora de nenhum estilo, e Milton Nascimento comenta que sua voz chamou-lhe a atenção no disco “Caymmi Visita Tom”, pois seu registro era bem agudo, contrastando com as mais contidas vozes femininas da BN.
Há um depoimento da Nana sobre o Tropicalismo em que ela diz que nunca entendeu esse movimento e que talvez só pudesse fazê-lo se alguém explicasse umas dez mil vezes. E ela foi casada com Gilberto Gil no início do movimento. Pronto, alguém certamente iria chiar.

Caetano Veloso, em sua coluna dominical, neste Primeiro de Maio, chiou, com elegância, mas chiou. Falou, falou, escreveu, escreveu, sugeriu que os “baianos” têm que ficar unidos, amizade não se joga fora, apesar das diferenças, declaradas no “Rio Sonata” e, só lendo. O artigo está em O Globo, RJ, e em A Tribuna, ES. Ele finaliza agregando um valor baiano metamusical, tipo Glauber Rocha e McLuhan, mas, que eles, baianos do tropicalismo, não desmerecem a amizade à Nana.

Nana é correta, a mais sentimental e romântica cantora da música popular brasileira desde a metade do século passado. Aos admiradores, não percam “Rio Sonata, Nana Caymmi”.