segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

35 ANOS SEM MAYSA.




35 ANOS SEM MAYSA.
                                            Rogério Coimbra.

Ontem, 22 de janeiro, fez 35 anos que Maysa sofreu o acidente fatal na ponte Rio – Niterói. Fica aqui uma lembrança, na mesma semana em que só se falou dos 30 anos sem Elis Regina e do aniversário de Nara Leão. Assim é a memória do brasileiro. Foca demais um ponto e acaba escurecendo a imagem de quem tanto realizou na música brasileira, no mesmo nível artístico. 


Aliás, a história dessas três sensacionais cantoras, curiosamente, passaram pela história do polêmico letrista, jornalista e produtor, Ronaldo Bôscoli. Por sua causa , as três não se suportavam e sempre destilavam o famoso veneno feminino. Bôscoli era o verdadeiro bad guy e consta que tripudiava tanto Elis como Maysa, menos Nara a quem secretamente amou até o fim, supõem seus biógrafos. Chamava Elis de “gauchinha cafona” ou de “ciclotímica” (maníaca-depressiva), e, Maysa de “condessa de araque” ou “gorda”, o que muito a irritava. Porém Maysa soube vingar-se dele, bem como Elis, essa afastando o filho, João Marcello, do convívio do pai. Maysa foi mais elegante ao enganá-lo com um convite para produzir um suposto show em São Paulo. Lá chegando Bôscoli encontrou um bilhete assinado por Maysa: “A condessa de araque foi para a Europa.”

A vida de Maysa pode ser muito bem conhecida em dois livros, os quais recomendo: “Maysa- Só Numa Multidão de Amores”, de Lira Neto, e, “Maysa”, de José Roberto Santos Neves.
Reproduzo abaixo trecho de um texto meu inserido na “História da Bossa Nova Em Vitória”, publicado neste blog.

E a Bossa Nova movimentou a pacata cidade de Vitória, no início dos anos 60.  Como uma música aparentemente tão calma em seu andamento poderia às vezes virar a ilha pro fundo do mar? 
A presença de Maysa em Vitória sempre fora motivo de explosões, fosse naquela época com as famosas brigas com Ronaldo Bôscoli ou mesmo muito antes, no verão de 1951-52, por exemplo, como conta Lira Neto em seu livro “Maysa- Só Numa Multidão de Amores”. Lira Neto conta que em pleno insucesso escolar Maysa veio para Vitória para abrir a temporada anual de caça aos corações masculinos capixabas. No carnaval de 52 foi eleita madrinha do bloco Marujos Por Acaso, do Praia Tênis Clube, vestindo uma provocante fantasia que exibia seu corpo. Namorou o bloco inteiro, “menos eu que era o mais novinho e magricela da turma”, disse Roberto Menescal. O jornalista José Roberto Santos Neves, que também escreveu uma biografia da cantora, afirma que Maysa cantou pela primeira vez em público numa festa no Praia Tênis. Ela havia rompido um namoro com Guga Saletto após ele armar uma cena de ciúmes. Ela não fez por menos, foi ao microfone e dedicou uma música ao seu “ex”. A música era ‘Menino Grande’, de Antônio Maria. 
Dez anos depois parece ter havido um replay. Conta o jornalista Ronaldo Nascimento que nunca se esqueceu da cena em que Maysa cantou a mesma música,“Menino Grande”,num show no Clube Saldanha da Gama:
 Lembro bem da noite em que Maysa ia cantar no Saldanha, acabei dormindo, acordei tarde e eu fui lá de Santo Antônio a pé, pois tinha perdido o último bonde. Quando eu cheguei ao clube ela estava cantando aquela música, ”Menino Grande”,de Antônio Maria, sabe pra quem? Pra José Costa, porque naquele dia ela começou a namorar com ele. Aí o Ronaldo Bôscoli partiu para o hotel Canaã, fez as malas e se mandou pro Rio, naquele carrinho conversível. Acabou tudo naquela noite entre a Maysa e o Bôscoli. Nunca mais vi a Maysa, só depois uma vez que ela estava por aqui e tinha ido pro Bar Santos, lá na vila Rubim, com Vilmar Barroso, Lurdinha Martins, Lulu Beleza e Rachel Benezath. Eles disseram a ela que eu tinha morrido - foi numa fase que eu havia parado de beber. Era tudo uma festa. Mais tarde vim saber do desastre dela:
Quem vivia sempre aqui conosco também era o Antônio Adolfo, sempre passava lá no meu escritório no Vale, passava muito verão em Guarapari. Quem passava muito tempo comigo aqui também era o Chico Fim de Noite, o Chico Feitosa, e o Nonato Buzar.
Lembro também dos encontros que a gente tinha lá na casa de Nilze Coimbra, que namorava o irmão da Maysa, Alcebíades, o Cibidinho, com aquele pessoal todo e com a Maysa namorando o José Costa na varanda.
Quanto ao rompimento com Bôscoli, correu a lenda que nesse dia Maysa, sabendo da fuga de Bôscoli, apelou para seu amigo Cariê, cujo pai, Carlos Lindenberg, governava o Espírito Santo; ela pediu-lhe que a polícia fizesse uma barreira na estrada para trazer o namorado de volta. Continua a lenda que Cariê conseguiu levar Bôscoli de volta para Vitória, escoltado, até ao Palácio Anchieta, onde encontrou Maysa bebericando um bom uísque.
Como poderia eu esquecer daquele show em Colatina que quase não se realiza devido a uma briga de Bôscoli com Maysa no hotel onde estávamos hospedados. Maysa sumiu e Bôscoli resolveu cantar um repertório de Frank Sinatra; o público não gostou e quase virou pancadaria. Graças a Menescal, Maysa resolveu cantar.
De fato a presença de Maysa em Vitória, com aquela turma de músicos, marcou muito a cidade. Comenta Lira Neto na biografia da cantora:
Vitória nunca mais esqueceria aquela passagem de Maysa pela cidade. Embora tenha dito que estava ali à procura de paz, nem as pedras e os morros que compõem a paisagem do lugar – e fazem dele uma espécie de Rio de Janeiro em miniatura – dariam crédito àquele propósito. Em uma cidade pequena, cada gesto era superdimensionado e ganhava ares de escândalo.
Verdade é que foi o furacão Maysa causador do agito da Bossa Nova em Vitória. O escritor Maciel de Aguiar comentou na página de “O Século Diário” que Maysa fazia questão de dizer que era capixaba e que demonstrava orgulho da família paterna, não pela aristocrática descendência laureada pela monarquia brasileira do Segundo Reinado, mas pelo fato de muito se identificar com seu pai, amante da música, boêmio e notívago como ela.
Disse Maysa:
- Em Vitória eu já era “uma Monjardim” e não deixei de ser eu mesma.

3 comentários:

  1. Não vi nada na mídia sobre a data de morte de Maysa, muito bem lembrado, Rogério. Ela merece! Abraços, Elisa

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  2. José Roberto S. Nevesterça-feira, janeiro 24, 2012

    Parabéns pelo artigo, Rogério!
    O blog está cada vez melhor.
    José Roberto S. Neves

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  3. Caros José Roberto e Elisa,
    Obrigado pela presença de vocês.
    Cada vez melhor está o Pensar, de A Gazeta.

    Elisa, que foi estranho foi...Confesso que não descobri nada na imprensa escrita e na TV sobre os 35 anos sem Maysa.
    Enfim, há de se respeitar os movimentos da vida
    Abraços.

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