Vitória já teve seus carnavais famosos. Hoje o carnaval agoniza na ilha. Talvez possa ser influência de ter-se adiantado a data em uma semana para o desfile das escolas de samba. Talvez. Há 50 anos, um pouco mais, um pouco menos, Vitória fervia durante o carnaval. Os clubes tradicionais abriam seus salões desde as tardes de sábado: Clube Vitória, Saldanha da Gama, Náutico, Álvares Cabral. As orquestras eram comandadas por Mundico, Clóvis Cruz. Maestro Antônio Paulo, Maurício de Oliveira, Edson Quintaes, Maestro HO, Luizinho Taj Mahal. Era tradição na quarta-feira de cinzas pela manhã descer a orquestra do Álvares Cabral, quando sua sede era na praça Costa Pereira, e enterrar o carnaval na praça, já sob sol quente. Nas manhãs de sábado blocos sujos ocupavam as ruas.
O centro da cidade era uma multidão fantasiada dançando ao som de sucessos que saiam dos alto-falantes presos nos postes. Havia o tablado, ora na Praça Oito, ora na Esplanada, onde concentrava-se o chamado povão. A praça Costa Pereira era cenário de desfile de dezenas de blocos; o bloco dos índios, formado em sua maioria por uma mesma família, era sempre aguardado e admirado: todos portavam lanças e flechas executando uma coreografia bem ensaiada. O desfile das batucadas Mocidade e Chapéu de Lado, que desciam o morro da Piedade, era um dos pontos altos. Tínhamos também a batucada de Santa Lúcia e a Mocidade da Praia. Centenas de mascarados se misturavam entre bailarinas e piratas com o único propósito da diversão. Houve uma época em que os freqüentadores do Britz Bar saiam vestidos de mulher no bloco Unidos de Carapeba. Hoje são rarefeitos os blocos que resistem e saem pelas já não tão cheias ruas do centro.
Já naquele tempo os carnavais dos balneários pegavam fogo: de Conceição da Barra a Marataizes, passando por Jacaraipe, no Riviera Clube e o famosíssimo do Siribeira Clube em Guarapari; recentemente Barra do Sahi, iriri e Piuma somaram animação mas, nos dias de hoje, o mais simpático e que conserva o bom humor de velhos carnavais é o da Barra do Jucu.
Mesmo sem ter o samba ainda nascido, parece que a turma do século XIX era mais animada. Transcrevo um anúncio publicado no jornal O Espírito Santense, de 04 de fevereiro de 1875:
Alerta, Alerta! Rapaziada de Gosto!
Para que as bucólicas e estapafúrdias circunscrições apologéticas do Carnaval tenham uma importante e enigmática descrição metalúrgica sinfônica, a bem da rapaziada de gosto estrambólico, previne-se com todos os ff (efes) e rr (erres) e a respectiva pontuação preambólica que, nos dias 07, 08 e 09 do corrente, haverá passeios de mascarados ao som do rataplan mefistofélico e do eco atrás do Penedo, por isso convida-se com toda ênfase e pitoresco garbo os amantes do dito supra mencionado bródio para tão faustosos dias de pândega, lindos trajes e belas momices.
Alerta pois o resto é sorte.
Ass.: Kikiriki
Ou então o anúncio de 31 de janeiro de 1902:
Si haveis de estar em casa
Danado como uma cobra
Curtindo a raiva dos filhos
Da vossa mulher e sogra/
Sai de máscara jocosa
Com guizos e relicário
Para dançares o can can
Lá na rua do Rosário/
Aí temos boas coisas
Bailes bons, à fantasia
Salão arejado
Que outrora não se via/
Quadrilhas e boas polcas
Maxixes e boas valsa
Deveis levar( é preciso)
Boas pernas e boas calças/
Tudo isso bem mexido
Bem dengoso e requebrados
Com pimenta e com adubos
Com graças de mascarado/
Haverá valsas escótis
E também o contraxaxo
Eu caio, Tereza, eu caio
Por baixo do Bolimbalacho.
Ass: Sociedade Fenix Carnavalesca.
A gente volta ao assunto.
Rogério. Estou querendo passar um texto de minha autoria para você.A publicação do mesmo foi incentivada por sua matéria recente na Gazeta sobre a vinda de Sarah Vaughan a Vitória. Trata-se de uma brincadeira. Acesse o atalho:http://ecen.com/jornalego/no_274_sarah_vaughan_em_vitoria.htm ou vá ao meu site pelo endereço: www.ecen.com/jornalego e acesse o texto de número 275 na relação à esquerda. Se não conseguir me avise em jornalego@terra.com.br
ResponderExcluirAbraço do Genserico.
O número do texto é 274 e não 275 como informei.
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