segunda-feira, 21 de março de 2011

HISTÓRIA DA BOSSA NOVA EM VITÓRIA. Parte IV.





  O mestre Maurício de Oliveira tinha uma academia de violão, no enorme salão do clube Álvares Cabral, na Praça Costa Pereira. Era um mundo enorme e nós, jovens, carregávamos nossas caixas de violão pela cidade em busca da felicidade. Maurício, seu prodigioso filho Sebastião, o Tião Oliveira, e o aplicado Elias Borges, estavam todos à nossa disposição para ensinar aquelas complicadas harmonias de bossa nova. Levávamos até pilhas de LPs para tirarem as harmonias, ou de um Menescal ou de um Barney Kessel. Queríamos aprender logo as nossas favoritas durante o dia para executá-las à noite, para nossas namoradas, ou melhor, para as que gostaríamos de namorar, ou mesmo para nos reunir em alguma varanda e exibir nosso progresso no instrumento.

O salão do Álvares era tão grande como nossos sonhos, cada um num canto, espalhados, cada um com o seu mestre, com um caderno e suas anotações: a diminuta, a sétima maior, a nona aumentada, a décima primeira. Não existia acorde maior nem menor, tinha que haver algo mais, ou, algo de menos. Isso era Bossa Nova. Lá estávamos crescendo e amadurecendo com essa nova música, eu, Miguel Sarkis, Mário Ruy, Ester Mazzi, Janete Torres, Apriginho Gomes, Serginho Egito, Luiz Alberto Martins, o Careca, Rubinho, o Ruby Goom, Evandro e Marco Tironi, o Tina, Chico Lessa e dezenas de jovens afoitos a se cruzarem com os violões a tiracolo na velha praça Costa Pereira cenário de tantas mudanças  saudáveis para a cidade. Ester Mazzi foi a mais fiel aluna, considerando que levou consigo aquele espírito musical por toda a vida. Ela gravou a partir dos anos 80 quatro discos, em clima bossanovista, incluindo releituras de clássicos de Cole Porter ou Gershiwn. 


Quanto ao Tião, hoje ele é pai de Antônia, talvez a nossa primeira pianista capixaba da gema, do choro do moderno samba, a Bossa Nova. Perguntei a ela: quem tocava mais,  papai ou vovô? Difícil responder.Acho que vovô. Papai é bom de arranjo. Antônia elegantemente traduziu o talento do pai. Tião foi um dos mais brilhantes violonistas de sua geração e o é até hoje. Vamos aos causos: Carmélia organizou um show bossa nova na antiga Fafi cujos principais atores eram Mário Ruy e Afonso. Pocou tudo. Ninguém se entendeu nos ensaios e Mário Ruy desistiu da apresentação em cima da hora. Conta Tião de Oliveira que ele foi resgatado na zona de Carapeba, a cidade prostíbulo que foi criada próxima à praia de Carapebus e onde ele tocava na boate Atlântica, na casa da Dinorah. Lá foi Tião cobrir o buraco deixado por Mário Ruy na Fafi, em pleno centro da cidade. Ele foi com uma exigência: eu toco, mas vocês me levam de volta pra Carapeba. 


Reparem que músico antigamente só tocava em zona ou em cassino. O músico nada mais era do que um contraventor. Isso era anti-Bossa Nova.  (continua).

4 comentários:

  1. Vitória devia ser muito linda nessa época, sem poluição humana nem ecológica.
    Elisa

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  2. Vitória ainda é linda, Elisa. Apesar de pequena sempre há um cantinho especial no meio de tanta confusão urbana.
    Obrigado pela visita.

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  3. Coimbra, vi a citação do meu nome nessa história e gostei muito.
    Este blog "Música nas Alturas" está uma curtição bacana, delícia. Você está de parabéns por contar tantas histórias, histórias que deixam a gente nas alturas...
    Grande Abraço,
    Ester Mazzi

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  4. Ester Musa,
    Você faz parte dessa história. Você é a sempre nova bossa.
    Bem-vinda mais uma vez.
    Abração.

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