quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

15 ANOS SEM TOM JOBIM

15 anos sem Tom Jobim, ou, desafinando no tempo.

Rogério Coimbra.



Tom Jobim. Oito de dezembro. Nome e data emblemáticos. Faz 15 anos que Tom partiu, exatamente em oito de dezembro de 1994. Nesta data, oito de dezembro, comemora-se o dia da Imaculada Conceição, dogma da concepção de Maria, o símbolo da pureza. No Brasil, diversos municípios comemoram o feriado, como nossa vizinha capixaba, a Serra. Dia santo e dia também de celebrar esse músico brasileiro que se fez puro, sem manchas e que nos legou uma música límpida, por que não, imaculada. Impossível praticar uma devoção ao Tom sem resquícios de religiosidade. Afinal não se busca simplesmente a paz de espírito, o conforto da alma, através de uma música tradutora dos bons e dos aflitos sentimentos de cada interior? Tom Jobim sempre acertava ao compor, principalmente quando se tornou parceiro dele mesmo, o homem por inteiro, música e letra. Breve é o dia /breve é a vida /de breves flores /na despedida.
A gente não deve esquecer jamais o Tom Jobim, como não podemos esquecer o Villa Lobos, que partiu há exatos 50 anos, e tantos outros como o Pixinguinha, o Nazareth, o Caymmi e também o Ary Barroso. Quando embarcava para os Estados Unidos para a fatídica cirurgia para destruir o câncer em sua bexiga, às vésperas de sua morte, Tom comentou com sua irmã: Se Ary Barroso e Villa Lobos morreram, eu também posso morrer.

Recomendo duas biografias de Tom Jobim, pra ler, reler, ouvindo seus discos, que são preciosos trabalhos de pesquisa e informação dignos dele: Antônio Carlos Jobim, Um Homem Iluminado, de Helena Jobim (Ed. Nova Fronteira, 1996) e Antônio Carlos Jobim, Uma Biografia, de Sérgio Cabral (Companhia Editora Nacional, 2008), além dos DVDs Maestro Soberano, em três volumes, e A Casa do Tom, em dois volumes, ambos lançados pela Biscoito Fino. Tudo incansável, eterno.

Esta é uma semana de reflexão, de saudade, de muita cisma de corações ao alto, espírito aberto. Ontem, dia 7, os poderosos iniciaram o tal encontro em Copenhague para tratar da saúde da Terra. Tom deve estar de olho. Há uma passagem em sua biografia comentando a hipocrisia alheia em diversos campos, e, por ocasião da Eco-92, um encontro internacional realizado no Rio em defesa do meio ambiente, o real casal Príncipe Charles e Lady Diana foi ao Amazonas e logo lá chegando perguntaram : E a temporada de caça, quando abre? Velha sugestão: deixar tocar a música Forever Green que o Tom compôs, à época, da Eco-92, com o filho, Paulo.

Esquisita mesmo é essa homenagem dando seu nome a um aeroporto. Não combina. Logo após sua morte tentaram nomear uma rua em Ipanema, mas não deu para mexer nos sobrenomes tradicionais já sossegados nos postes das esquinas da zona sul carioca. A última rua do Leblon, ou, a primeira, chama-se Jerônimo Monteiro, o político capixaba do início do século XX. Sobrou o Aeroporto do Galeão, uma ex-base aérea da aeronáutica. Imagino coronéis e brigadeiros traçando estratégias nas salas de comando com seus uniformes e quepes, e Tom lá do alto, sem entender bulhufas. Salvou-se o Espaço Tom Jobim, no Jardim Botânico, lugar mais apropriado e conveniente para o maestro repousar, ou o Centro de Estudos Musicais Tom Jobim do Governo de São Paulo. Parece haver só um outro aeroporto no mundo com nome de músico: Chopin, em Varsóvia, mas conhecido como Okecie, e claro que foi idéia dos stalinistas. O resto é nome de político ou militar. E tem outra trapalhada recente. A nova estação do metrô do Rio, a da Praça General Osório, em Ipanema, estava destinada a receber o nome de Tom Jobim. Moradores e entidades protestaram no ato, com razão: vão querer mudar os mapas, a geografia, e o passageiro de primeira viagem pode até pensar que a Estação Tom Jobim pode ser a de acesso ao aeroporto.

É muito chato ficar sem Tom Jobim, com essa saudade dele, de uma música nova que nunca virá, de uma piada, de uma sacada que sobraria na mídia. No próximo mês, dia 25, Tom estaria fazendo 83 anos. Engraçado imaginar Tom octogenário. Sobre seu futuro, a velhice, já considerada por Carlos Drummond, então com 80 anos, como uma merda, conforme confidência ao amigo músico, dizia: Espero descansar, comprar uma bengala, uns óculos novos pra ver as moças de uma distância oficial. Puro chiste jobiniano. Ah, quantas canções não estaria Tom Jobim inventando. Celestiais. Como o azul da Imaculada, cheias de esperança, vida e doçura.

Em tempo: nesta mesma data, 8 de dezembro, em 1980, na mesma cidade onde Tom Jobim faleceu, Nova Iorque, John Lennon foi assassinado no meio da rua, em frente à sua casa . Imagine.

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