segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

ADONIRAN, VADICO E NOEL.

Adoniran, Vadico e Noel.
                                                  Rogério Coimbra.

Comemora-se neste ano de 2010 o centenário de três bambas do samba. Dois paulistas e um carioca. Os dois paulistas são Adoniran Barbosa, nascido João Rubinato, e Vadico, nascido Oswaldo Gogliano, ambos filhos de imigrantes italianos. Vadico aos 20 anos mudou-se para o Rio de Janeiro e era um músico de mão cheia: compositor, regente, arranjador e instrumentista. Adoniran não saiu de São Paulo e através de suas letras foi traçada a mais fiel crônica dos paulistanos, principalmente os de camadas mais populares onde brasileiros se misturavam a imigrantes de várias partes do mundo. O alicerce de sua carreira foi o grupo Demônios da Garoa, nos anos 1940 e o maior divulgador de sua obra, que ao lado do grupo Os Cariocas, são os dos mais antigos conjuntos vocais ainda em atividade.
Vadico por sua vez, dada sua habilidade musical, esteve diversas vezes trabalhando nos EUA, onde também estudou, sendo o pianista de Carmem Miranda e do Bando da Lua; lá permaneceu entre 1939 e 1954. Conheceu Noel Rosa em 1930 quando colocou letra no primeiro samba da dupla: “Feitio de Oração”, lançado em 1933, vindo depois “Cem Mil Réis”, “Feitiço da Vila”, “Pra Que Mentir”,”Provei”, “Quanto Beijos”, “Tarzan, filho do Alfaiate”, entre outras. Retornando ao Brasil sempre esteve à frente de grandes orquestras sendo a mais conhecida Os Copacabanas, atuando também como pianista nas antigas boates cariocas Fred´s e Sacha´s.
Já Noel, ah Noel, que todo mundo conhece e venera, sempre foi visto como gaiato, mulherengo, poeta, o primeiro e absoluto cronista do samba: uma figuraça. Ele parece que está vivo entre nós. Quem não viu vale assistir ao filme “Noel Poeta da Vila”: muito bem feito. E por nossa ilhota ele esteve, em 1934 quando o Regional de Benedito Lacerda, com Canhoto, Russo do Pandeiro e próprio Noel apresentaram-se em Campos, RJ, Muqui, Cachoeiro, Colatina e Vitória. Que confusão. Tentou dar cano no hotel, em Vitória fugiu, de trem, foi pego na estação de Muqui, ficou preso em Vitória e foi libertado pelo Alcibíades Monjardim, pai da cantora Maysa. Ficou uma boa temporada, comendo ostras no mercado da Capixaba bebendo cachaça além de paquerar e se apaixonar por todas garotas da ilha. Seu séquito era o Monja, Clóvis Gomes, tio de Rubinho Gomes, Paulo Fundão e tantos outros que devem ter aprontado bastante nas pacatas madrugadas de Vitória.

Seus biógrafos dizem que gostava da companhia de marginais barra pesada e, em Vitória, andava com um temido guarda-costas quando numa noite, apertado, resolveu aliviar-se nos jardins da Praça Costa Pereira. Impedido por um guarda-noturno, foi autorizado pelo amigo e ali mesmo abaixou as calças. O escritor Reinaldo Santos Neves ao saber do episódio foi categórico: deveria haver uma placa com os dizeres “Noel Rosa Cagou Aqui”. Afinal, há muitos bustos ali instalados de políticos e figuras desconhecidas do povão, povão esse que costuma reclamar de tantas cagadas dos políticos sobre suas cabeças.

Nenhum comentário:

Postar um comentário