quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

ANONIMATO.

ANONIMATO.
Rogério Coimbra.

Vagueio anônimo pelas ruas do Rio. Já tenho na verdade em Laranjeiras, onde me alojo, alguns conhecidos, como se diz, de vista, ou de papo rápido, os quais são por mim cumprimentados ao por eles cruzar: seja ambulante, porteiro, vizinho, morador de rua, como a Da. Norma que reside sob o viaduto Santa Bárbara ou tradicionais “copistas” que sobram na rua pelas portas dos botequins e, quando a eles adentro, sou um bom confessor como ocorre em qualquer bar do mundo.

Então não sou tão anônimo assim, apenas meio manjado, como não o sou definitivamente na minha Grande Praia do Canto, que vai do canal de Camburi à Avenida Leitão da Silva. Anônimo sou em Jardim da Penha, Jardim Camburi e Praia da Costa.
Hoje o anonimato predomina em certos espaços os quais frequento.

Assisti a uma peça de teatro na Ufes, onde havia 600 espectadores e, depois de observar a longa fila e percorrer o olhar sob a platéia, eu, capixabão da gema, só identifiquei um conhecido: o Professor Arlindo Villaschi. Ele riu quando comentei esse fato e ainda mais sobre o meu espanto quando uso a ponte aérea Vitória - Rio, pelo menos uma vez por mês: não identifico mais ninguém no aeroporto ou no meu vôo.

Estranha sensação, diferente da de anos atrás quando todos se saudavam ou pelo menos sorriam ou acenavam. Estará minha geração indo embora? Agora ficamos nós desconhecidos na sala de embarque, um olhando para a cara do outro com cara de bunda, isso quando a metade não está com a cara enfiada em seus laptops, fazendo não sei o quê, haja visto não haver Wi Fi nos aeroportos e a autonomia das baterias das engenhocas têm limite de duração.

Há gente que finge ler um livro com aspecto de ter sido recém adquirido no próprio aeroporto. Prefiro ficar com os cara de bunda, imaginando como vai ser o vôo, se o avião vai engolir algum urubu no ar, se vai haver turbulência, etc. Já que não tenho com quem conversar e espantar maus pensamentos, resta-me rezar. Serei anônimo também nos céus?

Há o contrapeso do anonimato: a super exposição, às vezes altamente gratificante. É quando você está na sua tribo. Sexta passada fui ao TribOz, fantástica casa de jazz na Lapa cujos proprietários, Jessica e Mike Ryan, não me tratam como anônimo pois sou freqüentador de primeira hora. Assisti a um belo concerto de Cliff Korman que conheci com Ava Araujo em Vitória e lá encontrei o baixista Paulo Russo e um velho amigo, Milton Machado.

Foi também o que aconteceu comigo domingo retrasado quando fui assistir ao show de Wanderson Lopes, o Wandinho no Teatro do Sesi, em Vitória. Além da prazerosa música, encontrei muita gente legal para um papo ligeiro: os músicos Fábio Pestana, Bruno Venturini, Mário Ruy e seu filho Gabriel, Paulo Sodré e sua filha, produtora Júlia, Turi Collura , Neuza Escorel, Alza Alves, Saulo Simonassi, Ava Araujo, Victor Biassutti, o fotógrafo Tom Boechat, o jornalista e cineasta Victor Graise e trupe, o produtor Thiago Espírito Santo, o médico artesão artista Dan Mendonça, o clarinetista jurista Ricardo Dalla, ufa, sem contar todos seus pares.

Prazer maior foi envolver-me num clima amistoso proporcionado pelos violões de Wandinho, sem pop rock, concentrando-se numa atmosfera identificada com as origens de seu instrumento, evocando Villa Lobos, Baden Powell além de suas próprias composições repletas de instigantes ritmos. Foi bom vê-lo com os talentosos Pedro Alcântara e Fabiano Araujo, ambos portando acordeons e contraponteando os seus solos, e com a participação do saxofonista Roger Rocha, o baterista Edu Sjzabrum e o baixista Caco Dinelli.

Depois de tanta festa e boa música, em pleno domingo retrasado e sexta passada, retornei ao meu anonimato.

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