quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

RESISTÊNCIA.

Rogério Coimbra.

Claro que a Resistência, a maior das resistências foi a francesa aos ocupantes em seu pais. Refiro-me aqui às resistências e mudanças de atitudes, comportamentos, praticadas por bons amigos meus. Semana passada escrevi sobre minha Fada Madrinha, Beatriz Abaurre. Comuniquei-lhe o fato através de um simples telefonema. Ela então me disse que não tinha internet e que eu deveria mandar-lhe uma cópia via postal. Correios? Onde fica isso? Depois de muito desentendimento ela conseguiu passar-me o e-mail do neto. Tentei mas voltou. Para não mais incomodar, imprimi o texto, a cópia da mensagem de failured, e resolvi seguir o conselho da madrinha, já a essa altura, sem o título de fada, apenas uma mortal madrinha: mandar uma cópia via postal.
Descobri que não tinha envelope, apenas um daqueles enormes. Como deduzi que seria um desperdício, fui a uma papelaria comprar aqueles envelopes tradicionais. Surpreendeu-me que não mais faziam daqueles com enfeite verde e amarelo nas bordas. Em casa, tive dificuldade de dobrar três folhas papel ofício, para fechar o troço. Nem que tivesse cuspe ainda daria para vedar a correspondência. E a cola? Teria que voltar à papelaria pra adquiri-la. Usei o grampeador, única ferramenta do passado que utilizo para literalmente grampear minhas contas e comprovantes d e pagamento. Todo esse drama por um simples ato de resistência da minha mortal madrinha. Agora ela já não me é tão fada, mágica, apenas uma simples madrinha. Por que as pessoas resistem tanto às mudanças?
Participo de uma confraria cujos confrades discutem os caminhos do jazz, mas ao mesmo tempo resistem caminhar por novas trilhas. Percebi isso agora. Para eles, jazz, só o praticado antes dos anos cinqüenta; então não sei qual caminho se discute- tá tudo bloqueado. O presidente, meu amigo Ronaldo, só há pouco mais de dois anos passou a usar relógio de pulso e, para espanto de todos, no braço direito. Os mais conservadores o alertaram, mas não houve jeito. Celular também foi outra ferramenta por ele adotada há pouco mais de um ano, mas, não sabia usar. Os confrades concluíram que isso era coisa de mulher, a dele, claro. Também anda agora com uma mochila tal qual um ginasial e que ninguém se atreve perguntar o que ele carrega na dita cuja. Tem carro, mas não dirige. O outro, Joãozinho também tem carro, mas não dirige. Liguei para ele há um mês e sua esposa atendeu e comunicou sarcasticamente que ele havia saído, para fazer a revisão do carro. O outro, Xico Bento, tem um Gol 82 que não sai mais da garagem porque está mal das rodas; como ele mora numa pirambeira do Barro Vermelho, não sai ele, nem o carro. Há sempre um Cristo para buscá-lo para as reuniões, e supermercados. Celular, internet, nem sonhando. Seu grande avanço foi um PhilipsShave para barbear-se trazido por um piloto da Pan American. Comprou um home theater só para ouvir música em formato de DVD que o confrade Gummer produz. Esse é outro resistente que não vai a casamento, batizado e nem a enterro de ninguém porque não abre mão de seu traje oficial: bermuda, chinelo e camiseta regata. Agora agüentem: foi-me revelado que o Gummer foi ao aniversário do Paixão, de calça comprida e camisa social e, quem lá parece? Nada menos do que o doutor cais do porto de bermuda, chinelo e camiseta. Além dos comentários maldosos, Gummer, envergonhado, tentou afogar-se num mínimo cálice de vinho do Porto.
Querem mais resistentes? Vamos lá: Mr. Young, o enciclopédico do grupo, não abre mão de seu figurino em cores azul e preto além de detestar congo e a música Over The Rainbow. Tem mais. O irmão do presidente, Joazão só ouve vinil e provavelmente sustenta Golias e seu sebo na avenida Capichaba,como ele faz questão de chamar a atual Jerônimo Monteiro, e com ch mesmo. Também o confrade Paulo, escritor, que abandonou a cachaça e a escrita por uma filmadora: vive nas tertúlias buscando o melhor close de meninas nas platéias; pior que nesses eventos só dá marmanjo, e marmanjo Pink. Resistente também é o Pedro Telemar que decidiu manter o roteiro Vila Velha – Vitória de 30 anos atrás. Esqueceu-se da Terceira Ponte e desceu a av. Champagnat na contra mão, enfiou-se pela Glória e por aí veio, como se o prefeito ainda fosse Américo Bernades com Tuffy Nader dando seus pitacos.
Ainda tem o Paixão aos 85 anos; chamá-lo de resistente seria eufemismo, mas, adora Rosemary Clooney, não tem celular, internet e ainda usa seus bonés e casacos que trouxe dos EUA quando lá morou na década de 40. Pelo menos não resistiu ao charme e pernas de Diane Krall. Tem outro, Fernandel, proprietário de um Gol 0 KM mas que não resistiu e manteve a sua velha Paraty de 1985 calada em sua segunda vaga de garagem de seu edifício.Talvez seu único ato contemporâneo foi o de ir à Argolas para uma vernissage vanguardista de Ronaldo Barbosa, no Museu Ferroviário. Apaixonou-se.
Mas porque tanta baboseira? Deve ser pela resistência constante e progressiva das pessoas e também minha, por que não? Não resisti e localizei via internet uma agência dos Correios e postei a crônica para a minha madrinha Beatriz: custou-me setenta centavos e também um pouco do meu humor. Em tempo: uma das minhas resistências é tomar vinho, o que me assusta por vir a ser rejeitado pelo meu Blogueiro chefe, enólogo, diga-se de passagem.
Agora um conselho: a essa altura da vida, sejamos mais tolerantes, senão fica tudo muito chato.

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